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Mostrando postagens de julho, 2009

BURACO DE ENTULHOS

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A cama onde durmo não me serve. Levanto com todas as articulações doendo. Hoje olhei o dia pela janela. Faz um solzinho frio, e a paisagem é calma. Notei uma borboleta de um amarelo-quase-ocre, com lindas listras pretas, cumprindo fielmente a sua natureza de invertebrado. Tive um desejo enorme de ser inseto, de encher as patinhas de pólen, de voar de flor em flor, por entre as buganvílias aqui de casa. A Deus, o maior dos mistérios entre todos os outros, tenho o hábito de pedir, porque já é um hábito que a minha avó, sabida, me ensinou: Ô Margarida minha filha, a Deus a gente pede é o dom da sabedoria, assim como fez Salomão! Foi o rei mais sábio da Bíblia!. Foi mesmo, vovó?. Levei a vida toda só insistindo: Ô meu Deus, me dê sabedoria, vá... Acostumei. Todo dia, de chuva ou de sol, que nem o dia de hoje, claro, iluminado e cheio de borboletas, chateio Deus pedindo o precioso dom. Minha avó deve estar lá, pertinho Dele, vendo que eu, que me esforcei o tempo todo, desde pequena, para n

LUCUBRAÇÕES DE VIOLETA

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Não foi sem-mais-nem-menos que Violeta recorreu aos antigos álbuns de família. Há dias ela andava procurando achar-se. É que vez por outra a gente se perde da gente mesmo. Foi atrás de um banquinho, colocou-o diante do guardarroupa - ficou muito estranha essa palavra -, subiu, e alcançou suas memórias. Coisa imagética, pontuou, dando novidade à palavra. Memória fotográfica. Melhor, memória imagética. Aprumou-se então. 'Hoje em dia é preciso reciclar até as palavras'!. Lembrou-se então de algumas delas que lhe ocorriam, e que para ela, desgraçadamente, haviam saído de uso: ligeiro, creme rinse, rodeira, serviço de som, palavras que toda vez que falava, causava estranhamento e risos nos filhos. Parecia besteira preocupar-se com essas picuinhas, mas corria-se o risco de ao desconsiderá-las, engrossar as fileiras dos que estão vivendo fora da realidade. Violeta procurava evitar termos como: 'No meu tempo'. Para ela era um "pecado" que não se devia cometer. Simples

ENTRE A VIDA E O TEMPO

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Violeta acordou e ao olhar-se no espelho do banheiro, avistou-se no alto dos seus cinquenta anos. Tomou um susto. Tornou a olhar-se e reparou que o tempo continuava cumprindo impecavelmente o seu trajeto. Ela era prova disso: ' Estou na ante-sala de um lugar de mim que começo a conhecer agora'. Lembrou-se da infância, dos cheiros da sua casa, do mamoeiro empedernido lá no quintal, da goiabeira, do papagaio, das vozes e da segurança que sentia. Ainda fitando o espelho, pode ver-se correndo pelo corredor da sua casa, e o rosto sempre grave e de pouca conversa do seu pai, apareceu suavizado. Sobressaltou-se. Uma saudade, daquelas fininhas e sorrateiras, veio infiltrar-se nela. Violeta esfregou os olhos, saiu do banheiro e acorrentou-se as lembranças. Chorou. A vida ainda nem começara. Mas a sensação que ela tinha, era a de que o tempo caminha de um jeito, enquanto a gente caminha de outro. ' O tempo é um deus, enquanto eu sou uma simples mortal' Sentiu alguma coisa parecid