Clube do Coco e a identidade cultural alagoana


A origem do Coco Alagoano, para uns surgiu da mestiçagem entre indígenas e negros, para outros, sua origem vem de Angola, mas, José Aloísio Vilela (jornalista, folclorista, conferencista. Alagoano, natural de Viçosa), situa o embrião do Coco entre os negros dos Palmares. A cadência do ritmo teria se dado quando os negros rachavam o coco para a retirada da amêndoa. O folguedo está associado às festividades juninas, mas pode acontecer em quaisquer festividades importantes. O Coco de Roda é uma das mais primitivas manifestações do Coco. Com coreografia simples, é formada uma roda de dançadores, onde as palmas, os cantos entoados e o sapateado de um ou dois pares de dançadores, que se colocam no centro da roda, escolhem, através da umbigada, outros pares para os substituírem. O Coco tradicional é assim.

Bom lembrá-lo quando se aproxima o Dia do Folclore e quando grupos comprometidos com os folguedos populares: A Liga de Coco de Roda, Liga dos Bois, Baque Alagoano e artistas do Clube do Coco preparam, em parceria com a Secretaria Municipal de Ação Cultural, órgão realizador do evento, o Viva Cultura Especial, que acontecerá dia 22 de agosto, na Praça Multieventos, na Pajuçara. E o que é melhor: a entrada é gratuita. O cachê dos artistas será revertido para a gravação do primeiro CD coletânea do Clube do Coco. Após o dia 15 de setembro, as gravações dessa coletânea serão iniciadas. O CD que ainda precisará de recurso para prensagem, deverá sair no inicio do ano que vem.

O Clube do Coco surgiu a partir de uma ideia do artista Jurandir Amadeu Bozo, alagoano, com suas raízes fincadas em Pão de Açúcar. Segundo Bozo: “O Clube do Coco é uma ideia que pretende reunir os cantadores da nova geração para a promoção e difusão do Coco de Roda. São artista que já cantam coco de alguma forma em seus trabalhos, sejam eles coletivos ou individuais”.

A sua ideia teve a adesão imediata de Zé do Boi, presidente da Liga dos Cocos de Roda de Maceió, e do artista e também educador popular, Rogério Dias. Daí para a frente, outros artistas se identificaram com o projeto, que num crescendo vem ganhando simpatizantes e associados.
Bozo é um artista articulado, com reflexões sérias sobre o folclore – palavra que revela ter medo -, sobre os que ele chama de “intelectuais do folclore”, que se arvoram em “burocratas” culturais e que pregam um purismo utópico fazendo frente às novas manifestações dos folguedos. Sobre aquilo a que eles denominam de “estilizações”, e por isso repudiam, fica em evidência a inviabilização do diálogo entre o que representaria o tradicional e o novo. Entendido como fruto da modernidade, as derivações que presenciamos, são reflexos das novas definições de cultura na contemporaneidade. São novos os signos e eles remetem aos folguedos da cultura popular, vários estranhamentos.

São bastante pertinentes os questionamentos de Bozo.

Eu saliento a forte presença da Indústria Cultural - uma realidade que não podemos esquecer -, quando no dizer do próprio artista popular, ao se referir ao Clube do Coco: “o que se pretende com isso?- ao menos proporcionar a eles oportunidades de ter contato com outros cantadores que buscam na pesquisa uma saída pra se manter uma identidade de raiz e assim tornar possível e viável uma cena forte no Estado. – se eles querem essa preservação? – não tenho encontrado resistência quando falamos em tentar manter as tradições do Coco de Roda alagoano de forma mais original, mas não podemos esquecer que tem que ser um espetáculo e não mais uma apresentação. Sendo assim agradaremos a todos, turistas, puristas e “coquistas”, pois hoje o Guerreiro está cada vez mais escasso pela distância entre a realidade cronológica do Guerreiro, com a realidade atual dos jovens e crianças. E prossegue: “Temos que pensar que temos que envolver esses jovens e essas crianças num mundo de fantasia, alegria e divertimento, e assim todos vão brincar a nossa cultura popular e se identificar a ela, e não porque é importante e porque mostra isso ou aquilo... tem que ir porque é massa, porque é divertido e faz bem a alma. Acabem com isso de transformar a cultura popular em matéria de universidade, chega de estudiosos e intelectuais falarem tanto. Está na hora de ouvir quem realmente faz a coisa estar viva”. Finaliza Bozo.

Essa conversa com o artista dá mostras de um painel de dupla face da realidade. Uma, é a vivenciada por aqueles que tentam manter o espaço aberto para as manifestações populares. A outra, é o comportamento dos intelectuais. Vivência por parte dos artistas. Teorização por parte dos intelectuais, que no mínimo possibilita seminários e seminários, onde questionamentos como por exemplo: a preservação da cultura popular, o que ela significa, de fato, como salvá-la, sejam discutidos, muito mais como forma de carícia e ostentação egóica.Vivemos em uma sociedade em que cultura de massa é um dos novos conceitos. Uma cultura que naufraga a cultura popular e que não funciona como receptáculo das genuínas manifestações do espírito do povo. São conceitos que surgem para dar o arcabouço, como bem percebe Jurandir, para a transformação da apresentação, da brincadeira, em puro espetáculo. Em lucro para alguém, sem dúvida. Em outras palavras: a cultura popular é apropriada pela cultura de massa, diga-se: Indústria Cultural, sendo convertida em produto de consumo.Mas é para os artistas que essa missão é ofertada.
Como é possível a eles fazerem frente e resistirem aos interesses dessa Indústria que sem piedade, retira a aura da arte e a transforma em subcultura? O Clube do Coco, com certeza, poderá, dentro de algum tempo, dizer dessa experiência. Uma brilhante ideia, a de Bozo. Que os deuses da arte o abençoem!

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