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Mostrando postagens de janeiro, 2011

Sem precisar da lógica para entender afetos

O sol de hoje tá fraquinho. Aparece e desaparece. Olhei pela janela logo cedo, e me lembrei de Ciça, que nem sequer me avisou que ia gazear a faxina. Pois é, gazeou logo ontem quando eu achei de deixar uns quatro pratos sujos pra ela lavar. Me dei mal. Não gosto de lavar pratos. Uma vez Raulina me contou uma estória sobre ter ouvido alguém dizer por trás dela: 'lavando prato sempre'. Era uma voz de provocação saída do nada, sem dono. Ela também não gostava desse ofício chato, e eu reclamo sempre, que não aparece ninguém para elogiar um prato que a gente lava bem lavado. Não aparece. Ciça me deixou na mão, desligou o celular durante o dia todo de anteontem e de ontem, que era pra não ser incomodada. Eita, que mulherzinha cheia de astúcia, aquela. Outro dia peguei a danada mentindo descaradamente. Tava trabalhando aqui em casa e dizendo a alguém pelo telefone que estava no médico. Botei meus sentidos de molho e entendi que ela mente pra mim também. Por que teria que ser diferente

A Ilusão da Eterna Juventude

Quando o medo de envelhecer se converte em fuga da realidade Ontem à noite assisti a um excelente filme de Woody Allen: Você vai conhecer o homem dos seus sonhos . Neste ele apresenta, entre outros conflitos que estão no centro e na periferia da nossa existência, uma situação que a gente já está até cansada de ver na vida real: Maridos e mulheres de meia-idade, envolvidos com problemas de relacionamento, que espelham a decadência das relações de afeto, de convivência, contaminados pelos novos valores da sociedade moderna. Entre tantas questões, o filme nos leva a penetrar no medo do envelhecimento, que a cada dia angustia a maioria das pessoas, de ambos os sexos. Quando tudo aponta para o moderno, no sentido de ‘novo’, é natural que as pessoas que envelhecem, generalizando, tenham verdadeiro pavor disso. Afinal, a imagem do velho está associada, hoje, à destituição do seu valor pessoal, social e produtivo. Ser velho é sinal de ser um peso para os outros. Nada há, além disso: a juventud

Arte Primitiva Moderna em Santana do Ipanema

Um ensaio crítico sobre o trabalho de dois artistas sertanejos Sobre outras coisas que vi na feirinha da Economia Solidária é uma pena que eu não esteja conseguindo ilustrar o Ensaio Geral com fotografias, desde muito tempo. (Sempre que tento colocar alguma, acontece um problema). Hoje, gostaria de mostrar pelo menos dois dos quadros que vi expostos. São trabalhos de dois artistas: ambos sertanejos, com estilos e olhares bem distintos, sobre a realidade. Um dos artistas revela sua constante apreensão do cotidiano, em cenas que acontecem sobre cenários que estão sempre situados nas periferias, coisa bem típica das nossas cidades do interior. Suas cores são fortes, às vezes borradas, chapadas, são pintadas em telas, sobre desenhos livres, sem perspectiva aérea ou linear, sinais característicos da arte naif . Nelas, o artista apresenta o submundo marginal, denso e muitas vezes triste. Mulheres em prostituição, quase despidas, exibem seios flácidos, pele enrugada e acompanham homens não me

Feirinha da Economia Solidária em Santana do Ipanema

O Projeto Nacional de Comercialização Solidária realiza feirinha na Praça Adelson Isaac de Miranda, no centro da cidade, desde ontem. Participam artesãos, artistas, agricultores e apicultores do interior do estado. Ao todo são dezoito barracas distribuídas ao lado da praça. Além de Santana do Ipanema, que sedia a feira, as cidades de: Atalaia, Pão de Açúcar, São José da Tapera, Palmeira dos Índios, Carneiros, Maravilha, Marechal Deodoro, marcam presença com a oferta de produtos feitos, na maioria, por grupos que se organizam na fabricação de peças artesanais. Girlene Leonardo Lopes, 29 anos, representa nesse evento, o seu grupo composto de oito artesãs, residentes em Atalaia. A sua barraca chama a atenção pela beleza das peças feitas com a fibra da bananeira. Os trabalhos se sobressaem pela delicadeza, textura e acabamento. São porta-jóias, garrafas, caixinhas e pequenos bibelôs. Para fazer esse tipo de artesanato, o trabalho para as mulheres começa no tratamento que dão às folhas da p

Site FILMOLOGIA: Carta aberta ao público

Ministradores fazem balanço do Projeto de Oficinas de Cinema em Maceió Após a realização da última oficina de Cinema, semana passada, no Cine SESI Pajuçara, Ranieri Brandão e Ricardo Lessa, jornalistas e críticos de cinema, fazem carta aberta ao público no site Filmologia. Nela, corajosamente, questionam o que eles consideraram um fracasso: Desta vez a oficina de cinema não vingou. Sequer, segundo os ministradores, atingiu o ápice esperado: a participação do público, a sua permanência nos dias seguintes na sala de projeções do cinema. Com o mesmo empenho com que eu, particularmente, disponibilizei o espaço do Ensaio Geral para noticiar e divulgar a oficina (não por ser Ranieri Brandão, o meu filho, nem Ricardo Lessa, nosso amigo e colega de profissão, mas porque acredito na ideia de se debater cinema em Maceió), cedo novamente o espaço para trazer ao público a auto-crítica feita por eles. Rever o que foi feito, olhar sem medo para o que aconteceu e então, avaliar, assumir que o saldo

O que a catástrofe no Rio de Janeiro quer nos dizer?

A dolorosa resposta da Natureza Passei o dia de ontem assistindo a tragédia que acometeu a região serrana do Rio de Janeiro. É impressionante a quantidade de lama que soterrou casas, moradores, animais, plantas. Assim como impressiona a rapidez com que tudo acontece, mudando a realidade e a vida de centenas de pessoas. As imagens da desolação, tristeza, perda e do caos, nos enternece, nos machuca a todos. Junto com aquelas pessoas, seus rostos, seu sofrimento espelhado na amargura das suas falas, no embargo das suas vozes entrecortadas pela dor, todos nós, creio, cada qual a seu modo, recebemos a mensagem dessa catástrofe: Alguma coisa anda errada no relacionamento entre o mundo (Natureza) e o homem. Entre o homem e seus semelhantes, entre a Vida na Terra e a sua preservação, entre o Criador e a criatura. São colocações que buscam abranger o pensamento coletivo de uma forma mais extensa. Há os que pensam ecologicamente, politicamente, os que pensam humanisticamente, os que pensam a par

Hoje é dia de oficina de cinema no Cine Sesi

Em debate o cinema de Martin Scorsese Começa hoje pela manhã e vai até sábado, das 10h às 12h, a quarta oficina de cinema no cine Sesi Pajuçara: A Anti-fantasia de Martin Scorsese. Os ministradores serão Ranieri Brandão e Ricardo Lessa. O objetivo das oficinas é promover a discussão sobre a arte cinematográfica e desenvolver junto com o público freqüentador, o pensamento sobre o cinema: pensante e pensado. As oficinas vêm acontecendo desde o ano passado e têm como público, geralmente, estudantes e universitários. O interesse dos jornalistas Brandão e Lessa é que esse público se expanda ainda mais, e que alcance outras pessoas e outras faixas etárias também. O debate sobre cinema é possível para todos. Em entrevista com os idealizadores, quando perguntei sobre como fidelizar e trabalhar o interesse do público, tive como resposta, a questão da imagem. A imagem como projeção. Como emissora, ao mesmo tempo em que receptora, da atenção do público, do seu amor pelo cinema. Talvez seja essa a

Conversando com Ricardo Lessa: o assunto é oficina de cinema

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"A crítica de cinema é antes de tudo um sonho maquiavélico" Há apenas um dia para o início da quarta oficina de Cinema: A Anti-fantasia de Martin Scorsese, que acontecerá na próxima quinta-feira, sexta e sábado, das 10h às 12h, no Cine Sesi Pajuçara, trago as opiniões sobre cinema, crítica, e assuntos pertinentes, através do olhar do jornalista Ricardo Lessa, em entrevista concedida ao Ensaio Geral. Lessa é o outro idealizador do projeto, ministrador dessa oficina de cinema em parceria com Ranieri Brandão, e também um dos editores da revista virtual Filmologia. Ensaio Geral - Em sua quarta edição as Oficinas de Cinema fazem parte de um projeto bem ousado, seu e do Ranieri Brandão. Como você vê Ricardo, a possibilidade dessas oficinas poderem gerar um público fiel, amante da discussão e da crítica, realmente crítica, sobre cinema, e conseguirem o espaço que essa arte tem direito dentro do universo da cultura alagoana? RLessa – O que me deixa mais feliz (e tenho certeza que é

A Anti-fantasia de Martin Scorsese: Entrevista com o jornalista Ranieri Brandão

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A crítica e o debate sobre cinema em Maceió. Existem? Ranieri Brandão e Ricardo Lessa são jovens jornalistas, criadores e editores da revista virtual FILMOLOGIA, que além da profissão, têm em comum, o amor pelo cinema. Aliás, um amor apaixonado, que faz com que tenham se atrevido, esta é a palavra mais acertada, a desenvolverem um projeto para discutir cinema em Maceió. E discutir cinema em Maceió é mesmo um desafio. Parece que a arte cinematográfica, ou seja; a importância do cinema como canal que expressa de modo bem abrangente, todas as outras artes, e as contradições humanas existentes, ainda não foi ‘descoberto’ como lugar de debate, inclusive, pelos meios culturais e pela mídia da capital alagoana. Fala-se sobre filmes, sinopses. Não sobre o Cinema. A própria ‘crítica’ que se diz ser feita em Maceió – me refiro à crítica dos jornais impressos locais, em especial -, a que é feita principalmente pelos jornais que se destacam pelo alto índice de leitores, não poderia ser chamada de

Festa de Bom Jesus dos Navegantes em Pão de Açúcar

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Artistas e músicos se encontram e fazem festa alternativa Todos os anos, Pão de Açúcar, cidade localizada no semi-árido alagoano, distante 230km de Maceió, festeja a tradicional Festa de Bom Jesus dos Navegantes. Com o número de turistas que tem aumentado sempre a cada evento, a Cidade Branca, como é denominada, tem também pequenos bares, onde além de inúmeras pessoas, músicos, poetas, artistas e jornalistas conterrâneos se encontram e fazem sua festa paralela e alternativa. Os bares vão sendo consagrados por apresentarem uma proposta diferente de diversão. Isso se caracteriza pela natureza democrática com a qual os freqüentadores deixam de ser apenas receptores/consumidores das músicas (os que dançam e cantam acompanhando o show de artistas que cantam sobre os grandes palcos montados na rua). Nesses bares, ao contrário, os que querem, se integram e fazem seu próprio show, de modo bem pessoal, espontâneo e cheio de criatividade. Artistas e cantores se revezam, cada um com seu estilo e

ESCASSEZ DA PALAVRA

Há dias que não escrevo ordenadamente. Estou seca como pedra. Não me sai aqui de dentro uma mínima palavra, embora eu sempre esteja falando comigo mesma, incansavelmente. Estou estéril. Não de sentimentos, mas de colocá-los sobre o papel. Às vezes acontece assim. Tranco-me por dentro. Viro secura, deserto. Não sei exteriorizar nada. Estranho as palavras quando as junto e elas também me estranham. Escondem-se e se camuflam. São como um emaranhado de símbolos que não consigo por em ordem. É como se eu tivesse: tecido, linha, agulha e não soubesse coser. Nesses últimos dias tenho experimentado sentimentos diversos, que se multiplicam, se enlarguecem, e com os quais sonho em escrever, como num desejo místico de alcançar plenitude. Sinto falta de mover a palavra pra lá e pra cá, em dizer coisas, em deixar falar minhas personalidades outras, que se fazem passar por personagens e que saem de mim e ganham vida e vão encher a minha de poesia. Perco, vez por outra, a chave da minha própria saída