Sobre a façanha de ser criança na infância

O que está sendo perdido pelo mundo infantil?

Na noite da última terça-feira (1º/02), presenciamos, eu e outras dezenas de pessoas, que no momento estávamos em um daqueles restaurantes da Amélia Rosa, em Jatiúca, uma cena no mínimo intrigante. Um homem perto dos seus 40 anos entrou na avenida pela contramão. Bêbado, desorientado, quase se choca com um ônibus urbano. Foi um susto para todo mundo.

A confusão não acabou aí. É que o senhor transportava em seu veículo, uma adolescente e duas quase-meninas. Assustadas, as duas tiveram a reação que muita criança tem e se expuseram: uma delas saltou do carro ainda em movimento, que por sorte, àquelas alturas, já estava bem lento. A outra desceu em seguida. Pelo aspecto de ambas, não era difícil para ninguém imaginar o que realmente acontecia, tinha acontecido ou estava para acontecer.

O homem, ao ser abordado pelo que acreditei serem policiais à paisana, que estavam sentados em uma mesa próxima à minha, apresentou a adolescente como mãe das duas outras, que deveriam ter aproximadamente 12 a 13 anos. Que falta de criatividade dele! Esse flagrante aconteceu ali, à nossa vista. Algo degradante, sem dúvida. Uma situação inesperada que dá a amostra, in loco, da prostituição infantil em Maceió.

Telefonemas foram feitos por parte do pessoal que tentava manter o homem no local. Mas essas ligações não moveram a quem as recebeu. Com o tempo passando, nós tivemos a decepção humilhante, registre-se isso, de assistir aquele senhor entrar no veículo, ir embora, ileso, enquanto as meninas seguiram em um táxi, que deve ter sido chamado por ele. A quantos processos aquele homem iria responder? Entrar pela contramão em uma avenida movimentada, estar visivelmente embriagado, estar com menores dentro do carro?

Apesar da boa intenção do pessoal, o homem seguiu livre, e na certa louco para encontrar os amigos e contar o fato, debochando da situação constrangedora que ficamos todos. Porque fomos nós e os policiais, ou o que sejam aquelas pessoas que tentaram fazer valer a justiça, os envergonhados. Fomos atingidos pela vergonha de presenciar a falta de vergonha alheia. A frustração de ver que aquele homem estava se indo, sem sentir culpa, nem medo, nem sentimento algum. E sem que ninguém pudesse detê-lo, apesar das inúmeras testemunhas que éramos.

Hoje pela manhã fui agraciada pela leitura de um excelente texto de Ana Clara Martins, estudante de Psicologia da Universidade Federal de Alagoas, já em seu último ano, onde ela apresenta sua percepção sobre aspectos da infância. Lembrei do fato que presenciamos, envolvendo aquelas ainda-crianças.

O que está mudando com as nossas crianças? Para onde está indo a fantasia? A quase perfeição inconsciente que a inocência, em natural doação, contemplava o mundo infantil? Onde começa a dissipação dos suportes emocionais que deverão servir de ancoragem aos adultos de mais tarde?. Para quem quiser refletir sobre isso, eu recomendo o texto de Ana. Aí está:

http://www.filmologia.com.br/?page_id=2272

Vale a pena mergulhar por suas palavras. Vale a pena mesmo!



Comentários

  1. É lindo andar na contra-mão e a avançar o sinal vermelho! É mais lindo ainda prostituir o que ainda não é, e matar o que ainda não veio! É o Brazil!

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