À minha gente de Pão de Açúcar: Agora é pensar o futuro!

Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus em Pão de Açúcar/AL

O Iate Clube Pão de Açúcar foi palco da mais importante celebração do aniversário de 400 anos da fundação da cidade. As famílias foram chegando e encheram a pracinha em frente ao local. Já ali tinha início os momentos de grande emoção entre os conterrâneos, a alegria do encontro, os abraços fraternos e as conversas animadas. Às 19h do dia 1º de julho tivemos, a gente de Pão de Açúcar, o extremo orgulho de sermos filhos do Espelho da Lua.

Acomodados no salão do clube, misturamos os tempos, num grandioso momento metalingüístico: uma história acontecendo para fazer a leitura de outra já feita. Presentes e ausentes estivemos unidos pela memória. Os homenageados receberam por direito, o justo merecimento de saírem das fronteiras erigidas por aqueles que criam títulos de honra para alguns poucos, geralmente políticos ou ‘bem-nascidos’, e deixam os demais no esquecimento, como simples figurantes de suas narrativas de privilegiados. A cidade é feita por todos.

A festa ressuscitou ausências. Para cada nome evocado, delirávamos em nossas saudades, à memória dos seus rostos, das suas características, da sua função social. Pedreiros, pescadores, professores, artesãos, músicos, o artista Joãozinho Lisboa, poetas, médicos, serviçais da saúde pública do antigo F-SESP. Quem pode esquecer a saudosa Lu, a merendeira do Bráulio Cavalcante? Além dela, conosco estavam todos aqueles que resgatamos pela lembrança do nosso afeto e reconhecimento.

Mas é também grande o sujeito que perambula pelas ruas. O pedinte e o louco que se tornam presenças emblemáticas no cotidiano do lugar, e que fazem parte de nossas saudades quando desaparecem. À minha geração, Maria-Doida, Cassimiro, além de tantos outros, produziram cenas e pérolas espetaculares para uma espécie de ensaio literário virtual, que resiste no imaginário da população, através de atitudes e comportamentos, extravagâncias e excentricidades, que jamais passariam despercebidos por nós.

Faço questão de salientar e fazer jus, à figura legendária de Rosa de Lia, negra centenária, da qual sinto orgulho de ter sido sua amiga íntima. Ela, que conhecia como ninguém, o retrato e a alma da cidade, as famílias que habitavam a Pão de Açúcar do final do século 19, as histórias pitorescas, além de ter sido a memória viva das gentes e da terra de Jaciobá, tão mal aproveitada por todos nós. Foi-se com ela, sem sombra de dúvida, o maior cabedal de um tempo, que faz parte do arquivo morto, ficando na condição que meu grande amigo, o poeta conterrâneo Zé Paulo, nomeia como ‘desvio de cultura’.

É o ponto negro que surge do vácuo da ausência da ‘fotografia’ de certo período da vida da cidade. Nele, ficam soterradas as pessoas, suas produções de cunho artístico, cultural, etnográfico. É por isso que Pão de Açúcar precisa de imediato, conferir e preservar feitos e nomes do presente, trazendo para a realidade tangível os fatos e os elementos que marcam a sua trajetória. Isso requer a criação de instituições que materializem, atualizem, agreguem e legitimem a alma do seu povo. Como faremos isso acontecer?

Em 2011, poetas, músicos, artistas, artesãos, escritores, médicos, loucos, populares, também estão atualizando, construindo e escrevendo as páginas da vida em Pão de Açúcar. Quem é a essa gente? Quem são essas personagens? Parabenizo a iniciativa dos gestores públicos e da sua equipe de assessores, pela bela iniciativa, decerto inesquecível para todos nós. Agora é a vez de recolher, cuidadosamente, tudo aquilo que constará das futuras memórias para as novas gerações. Não há tempo a perder!

Comentários

  1. "Tão mal aproveitada por todos nós"... concordo plenamente, se pudesse retroceder no tempo quantas coisas gostaria que fossem imortalizadas.

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  2. Entendo tudo romantismo que cercou o momento. E mais, ate aplaudo de pé nomes que ali foram chamados. Mas a ausência do nome de Rosa de Lia. A Negra que que pronunciava os nomes das pessoas nas formas mais mirabolantes possíveis, que contava fofocas e estórias, era emblemático pra mim. E olhe que quase não me lembro dela. Mas recordo de tantos nomes que deveriam estar ali. Que se aqui listasse não acabariam meus comentários. Mestres dos saberes populares que apenas ficaram esquecidos devido a sigla partidária ou a não influencia aos mais próximos do prefeito. Tia Gô, eu sai triste dali, pq a Jaciobá continua a mesma, só mudaram os nomes e as formas de pressão para se mantar o comando. A cidade branca que ainda apaga em sua sobra nomes e pessoas.
    No mais. Tia o texto é lindo (-sou cada dia mais seu fã-) e entendo toda emoção descrita.

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  3. Quem peninha que essa cidade tem pontos turisticos interressanta! mas nada é publicado; então nós adultos para aplicar algum trabalho de conhecimento sobre esta cidade! então com esse mundo tão tecnologico ñ dá mais para mandar ir para a biblioteca, porque ninguem mais que ir...!

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