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Mostrando postagens de novembro, 2011

O morto-vivo

Este homem que encontro todos os dias, acha-se deitado sobre o chão da rua, esperando que as pessoas passem sobre ele, como se fora, ele mesmo, um quase morto. Não aprecia o contato com os outros ou com o mundo dos vivos. Passa-se como uma coisa qualquer, um sem-mãe que seja ou que nunca haja tido uma para ensiná-lo a vida. De outro modo não haveria sido o que se tornou: uma pessoa desprezível no mesmo grau e medida que despreza os outros.  Vi-o, como sempre o vejo e por essa razão não cogitei perguntar por que se acha ali, estendido, barriga para cima, com um olhar vago de quem não sente, não aprecia nada e nem ama coisa alguma. Para que confirmar o que eu já sei? Há dias para os que passam, mas há anos a mim, que já o venho sondado, que a sua vida é um restinho de respirar, ler coisas que se refiram a desejos fortuitos e seus apenas, e mover-se em torno de assuntos redundantes sobre novidades que o mantenham cada vez mais, em apurado narcisismo. Tenho-lhe pena, confesso. Mas,

A noite que mora na gente

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Meio atordoada Emília acordou e viu que a tarde estava indo embora. Esfreguei os olhos, saltei da cama, a casa escuuura. Saí do quarto e fui acendendo as luzes. Primeiro a do corredor, depois a da sala, a da cozinha e a do lado de fora. Olhei as buganvílias que Adilson cortou na semana passada. Precisava fazer um estrago desses? Aquilo não foi o que se possa chamar de poda, foi destruição mesmo. O chão do jardim cheio de galhos, as flores pendidas e eu com pena das plantas. Pensei: Isso é natureza morta pra valer, e Adilson me perguntando sem nenhum dó, se juntava tudo e colocava na calçada, 'assim dona Emília, sem ‘impatar’ a entrada da garagem'. E aí eu disse que ele calçasse as luvas de jardinagem, primeiro, que buganvília tem um espinho medonho e ele respondeu que é uma dor danada quando a gente se fura,  e foi juntar os galhos. Pois bom. No outro dia, de manhã cedo, fomos eu e Olavo pra capital Hoje, assim que foram chegando  de volta, Emília foi logo percebendo que do

"Ser artista é uma dádiva"

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Cansado de pintar mesmices, Orlando Santos faz brotar dos seus pincéis para as telas, um povo simples, o cotidiano e o regionalismo, através de um estilo pessoal, marcado por tendências cubistas O artista Orlando Santos Homem de estatura mediana, brincalhão e de humor fácil, ele é um dos principais patrimônios vivos de Porto Real do Colégio, terra onde nasceu. É graduado em Contabilidade, sendo que, 31 dos seus 52 anos, são dedicados às artes plásticas. O alagoano, conhecido nos circuitos da cultura local, era ainda um menino de 12 anos, quando começou a pintar. Seus trabalhos já ganharam o mundo. Estão no Canadá, na França e em Portugal. Em Maceió, sua arte pode ser vista em hotéis, órgãos públicos federais e estaduais, instituições, pousadas, consultórios e residências. Minha conversa é com ele. O que é ser um artista? Quais os louvores e as dificuldades em ser artista em Alagoas? Ser artista é uma dádiva, nascemos com esse talento, embora o tempo nos faça reflet

Sertão dourado no jardim das craibeiras

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Novembro chegou. As estradas de barro que nos guiam em direção ao sertão das Alagoas levantam nuvens de poeira que nos perseguem até o nosso destino. A vegetação muda de roupa com rapidez: do verde esperançoso à secura cor de siena queimada. Carcarás desenham traços imaginários no ar em vôos rasantes. Começam os tempos difíceis, reproduzidos anos após anos, por essas paragens. Pelos caminhos ensolarados a natureza nos surpreende. Verdadeiros jardins de craibeiras, douradas, quebram a rigidez das imagens pontiagudas dos galhos secos, inaugurando uma beleza de deixar perplexo qualquer vivente. Ver sobre o chão que se vai esturricando, árvores cheias de viço, faz com que nos perguntemos como podem fazer parte da mesma realidade, e em um mesmo cenário, tanta secura e tamanha exuberância. Ao paradoxo exibido, só nos cabe a tentativa de dimensionar a experiência e aprofundá-la às memórias da nossa alma. Um mundo amarelo despeja flores pelos caminhos e ipês lil