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Mostrando postagens de agosto, 2012

Essas dores do mundo

Certa vez escrevi um conto que se chama: Como Espinha de Peixe . Volto a lembrá-lo, porque hoje, dia do folclore, minha memória retorna à tradicional Festa de São Sebastião. Volto aos dias de todos os anos, quando pessoas humildes e muitas, marginalizadas, desciam do Alto da Carrapateira, lá em minha terra, pedindo ajuda para fazer a sua festa. São Sebastião, crivado de flechas constelava em mim a memória inexistente de uma dor alheia, de vários furos, de onde jorrava sangue. O seu olhar, voltado para cima, supliciado, o fazia oscilar sobre o andar de quem o transportava,  dentro de um oratório,  como quem carrega uma criança pequena nos braços. Estarei enfeitando demais a minha narrativa? Seria o oratório apenas e tão-somente uma caixa de sapatos? Há tempos que misturo  as imagens em minha cabeça, e confundo o que foi, com aquilo que a poesia me faz pensar que houvera sido.  Minha alma me ultrapassa, perigosamente, e segue em minha frente contaminando minhas memórias, pincelan

Sete mulheres em mim

As duas mulheres, que vieram fazer uma visita onde eu, de visita me encontro, mais tarde entraram a andar comigo e trouxeram consigo mais outra mulher, que chamei-a de Desconhecida, porque eu nunca a havia visto. Vamos a uma festa daquelas das quais corro às léguas. Ali eu estou, junto a elas, num amplo galpão, que mais parece um ginásio de esportes.  Procuro corrigir o lugar errado e o despropósito da festa, buscando descobrir algo inusitado, e  acabo encontrando:  Vejo uma amiga que há muito não via, atravessar o ginásio, indiferente ao que se passa no entorno. Está mais jovem, vigorosa, sensual, muito mais do que estará de fato, depois de tantos anos sem nos vermos, e tendo o tempo causado seus estragos, em mim, nela também os causou. Estou certíssima disso. Eu a observo atentamente. Ela se deita sobre uma daquelas arquibancadas - que só de falar sinto-lhe a frieza do cimento -, exibindo charme e eu comento com Desconhecida: "Como fulana está bonita!"  que também tendo

Surdez e sonho

Confusão em dois metros quadrados de sonho colorido. A hora inexiste. O dia ou a noite são eternos e se fixam como se houvéramos estado eternamente no Olimpo. A comunicação está quebrada e as peças procuradas para consertá-la, escondem-se embaixo da mesa. Minha audição é defeituosa. Se é que há uma, tecnológica e celular. Há um pesaroso trabalho de recompor o ouvido, dissipar a surdez, a palavra que instiga, da minha voz, um homem, ao qual me dirijo e o condeno por insistir em culpar os outros pelos seus próprios defeitos. Sua sombra ensurdece ainda mais minha audição. Somos a mesma mulher, essas duas, que se entreolham aflitas procurando meus ouvidos? Uma é a mãe da outra, ela mesma mais velha, mais irritada, mais desiludida, mais surda, apontando que a nossa audição incompleta se deve à infantilidade de um menino que não ouve o que se diz. Devo correr atrás dele? Vou procurá-lo, e entro pela mesma hora, por um cenário que se reproduz incansável. Não há necessidade de outros. Dete

Terça-feira

Hoje, dois pingos de colírio é o que me fizeram chorar, duas abundantes lágrimas. Ao portão, o carro estacionado espera ninguém e Amarelo , o cão da vizinha, não queria me fazer medo. Eu é que quis sentir. Veio correndo e ao se aproximar diminuiu os passos e me olhou com sua mansidão previsível, que eu teimo em suspeitar. Aguçou os olhos que se tornaram pedintes. Não sei ler a alma dos cães pelos olhos, mas ele queria entrar em casa. Sua agonia é também previsível. Deve ter medo de tornar-se - se não passar portão de ferro adentro -, por um descuido, o vira-lata que é. Sobre o muro amarelo da minha casa, pendem galhos e flores amarelas sem perfume, em direção à rua. O sol saiu e lançou luz cintilante e amarelada, por sobre o chão ainda molhado, da lembrança da última chuvarada. As duas lágrimas de mentirinha, me trouxeram outras, saídas das flores em minhas retinas. Não eram falsas. Eram despropositais. Às vezes os olhos da gente choram sem a gente querer. Choram por chorar

Segunda-feira

A paisagem vista do terraço encurta e aperta um céu recortado por prédios. Imensidão fracionada, onde penso a abóboda como peças de um quebra-cabeças. Procuro vastidões, para expandir as exatidões do espaço, e compor a montagem singular da primorosa metáfora. Junto todos os azuis celestes,  liquefaço o concreto, os tijolos,  desando prédios e suprimo recortes. Projeto um céu muito além do que vejo ou do já visto. Eu me desvencilho dos simulacros, Liberto minhas próprias extensões indefinidas Alivio a poesia, E me salvo dos arremedos do mundo

Oração pelo meu aniversário

Dois de Agosto de 2012 : Frio, umidade, chuva de inverno, dia nublado e contentamento. Deus em mim habita. Eu o sei, porque vi a chuva caindo, o dia iniciado, as flores extasiadas de cores  em meu jardim, as folhas ainda mais verdes, molhadas, o canto dos pássaros, e enchi o coração de júbilo. Um júbilo Maior. Eu senti, profundamente, a força da minha existência fazendo parte da tecelagem, sendo como um ponto, ínfimo, mas presente, na extensão daquilo que É eternamente.  Sou humanamente necessária para que os mistérios sejam os mistérios que são. Aos sábios, a Sabedoria, essa, que principia no temor santo às coisas da Divindade. Bendita seja a Luz que me ilumina e que me conduz através do meu tempo, em tudo aquilo que sou e que faço. É a Deus-Santíssimo, em Espírito e Verdade, que entrego hoje, todas as lições a mim destinadas, com seus questionamentos humildemente respondidos.  Não perfeitos, tampouco completos, mas plenos do que conheço e do que aprendi. Que tudo o que eu tenha r

PARABÉNS PELO HAPPY BIRTHDAY:

Poema de meu amigo poeta Zé Paulo. Um presente(hoje) para o meu dia de amanhã... Obrigada, amigo!!!! Muito grata! Gratíssima e emocionada... Poema da leitura estrutural da vida e obra A mulher não se importa mais com os espelhos, os espelhos a seguem e podem brotar do seu carinho no ar. Ela pensa nos planos, pois se são diversos está faltando uma palavra. O seu tempo é usado na leitura da rua infinita, a arte hiperreal é a sua imaginação, o belo efeito inimitável do invisível sempre disponível lhe dá a  sensação de morar no último mínimo átomo rodeado do espírito do Deus. Nas horas da música acompanha com os dedos como se solasse um teclado acoplado à guitarra recebendo sons de todas as direções. A cada face arquitetural corresponde um poema, a cada conjunto de faces arquitetônicas a disposição da única pose virtual. Ela imagina certamente que o artista pensa em primeiro lugar na virtualidade ausente por ser a edificação diretamente proveniente dos sentidos. Em alguns dias