Eu já contei?

Eu disse ao rapaz que ele chamasse Zé Raimundo, o taxista que é meu amigo, e você sabe de quem estou falando, não sabe, rapaz? -'Sei, garota'. O menino levou o carrinho até a porta do supermercado, todo apressado pra desocupar e pegar outro carrego, porque eu me vexo pra dar a gorjeta antes do tempo. Como é seu nome mesmo? Isnaldo. O primeiro táxi que chegou ele foi logo dizendo: é o da senhora, chegou, 'óia'. 
Não era ele não. Raiva danada do funcionário sorridente, achando que ele havia chamado o taxista errado. Uma mulher que anda acompanhada de uma menopausa parecida com a minha, sabe o que é ter raiva. Uma dessa, grande e desmesurada, por uma coisinha tão besta. Oscilação do humor é uma gastura. 
- Mas logo a senhora que parece que não tem tempo ruim, como pode? 
- Podendo, Josi. A raiva é que nem como uma coceira, que a gente não pode coçar, porque nem sabe onde está coçando. Quer ver raiva? É quando me lembro da prima de Audálio. Muito importante, toda cheia de propriedade,  com ares de sabe-tudo me dizendo outro dia: É síndrome climatérica. Coma isso, coma aquilo, aquilo outro e tome chá da folha da amora. Me dizendo o óbvio e se achando mais sabida do que eu. Eu tenho cara de desinformada tenho, Josi?. Sim, aonde eu ia mesmo nessa história? Eu já contei que quase pego o táxi errado? 
- Duas vezes. Três com essa, mãe. 
Tenha paciência, Nano. Mas eu terminei de contar como foi? A gente, eu e o menino já tínhamos colocado quase tudo dentro da mala do carro do homem. E ele olhando pra mim meio surpreso.
- A senhora me chamou mesmo, senhora?
Eu olhei para um carro que ia chegando e vi Zé Raimundo. Aí eu respondi ao taxista, já tirando minhas compras de dentro do carro dele: chamei não, senhor. O vexame do menino me atrapalhou. Como era mesmo o nome dele, Josi? Ela me olhou coçando a cabeça. Pensou, passou o dedo no rosto vasculhando espinha, encontrou uma, mexeu, remexeu. Olhou pra mim de novo, 'a gente tá ficando velha e esquecida, viu dona Amália?. Eu também não lembro mais não. A cabeça da gente né nada não, né dona Amália? Né nada'. 

Nano, eu já lhe contei do encontro que tive, no mesmo dia? Foi lá mesmo dentro do supermercado, com uma antiga conhecida que nem na menopausa está. Beijinho indo e vindo e a gente não lembrava o nome uma da outra. Pior é que usávamos o mesmo tipo de dissimulação, nos tratando por 'querida' o tempo todo. Contei? Que estalo eu tive agora. O nome dela é Valeska. Lembrei. 
- Já contou, mãe. Umas quatro vezes com essa.

Comentários

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk gostei tia!! gostei umas quatro vezes com essa! =D

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    1. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKk Obrigada, 'Dadi'. Estou adorando ter você como seguidora e leitora, pra valer mesmo!!!! beijão

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