Postagens

Mostrando postagens de novembro, 2012

A PALAVRA É PARA DIZER: Garida

A PALAVRA É PARA DIZER: Garida

Garida

Imagem
Na tarde quente, o fogão de lenha metia fogo pelas ventas. A parede era negra,  as vigas eram negras,  as telhas enegrecidas. As imagens despejam-me a fuligem por dentro. À panela, douravam os lambe-dedos e frigia o vento. No quintal, a goiabeira, o pé de café e o silêncio. O pilão dormia em um canto. As folhagens oscilavam e enverdeciam a vista. Mais tarde, cadeira de balanço lá fora, A ver chegar as primeiras estrelas, A rua inteira era um pavilhão de repertórios e imensidões, e ninguém sabia que depois, amontoados, serviriam à saudade, que como uma serpente,  sibila sobre as páginas onde se cravam as lembranças. Um fantasma alto e magro assobia uma canção, me sorri, me traz no colo e me conta estórias de trancoso: Era uma vez uma Margarida, que viajou para o céu...

Figurado

Pássaro inocente, cujas asas distanciaram-me o universo e o vôo Entrou pela minha varanda e brigou com a transparência, sem entender o vidro da porta, assim como não sei ultrapassar o meu destino. Sou eu sim, a subir discretos relevos, A arriscar-me em rasantes vôos. Minhas asas feitas em casa, de velhos lençóis sobre os ombros, Alça-me até agora sobre a mesa da cozinha, sobre janelas da fachada,  voando sobre um  céu feito de calçada e cimento, sobre o tempo da memória das coisas. Dessas coisas é que me saiu do peito a ave, quebrantando a limpidez, agora, sem entender a porta. Sem o refúgio no mistério do vidro, desguarneço. Perdi-me do mundo do faz-de-conta, Perdi das asas o vôo tecido em algodão E os fragmentos pontiagudos transluzidos, cobrem o limiar da porta, entre mim e os meus medos. Para atravessá-la, h averei de dilacerar os pés.

Jucélio Souza, esse talentoso artista de Pão de Açúcar

Imagem
Jucélio Souza Quando Jucélio Virgínio Maciel de Souza veio ao mundo, um daqueles anjos dos que falaram a Drummond, disse a ele: “Vai Jucélio, vai ser músico na vida”. Estudante do último ano de Direito na Universidade Federal de Alagoas, militar do Corpo de Bombeiros, ele é um negro bonito, de olhos vivazes, um sorriso cativante, estatura mediana, extrovertido e vivendo seus 29 anos com a intensidade que persegue os artistas. Conterrâneo de Bráulio Cavalcante, nascido de Pão de Açúcar, que no dizer do falecido poeta, Marcus Vinícius* foi o lugar do pandeiro inquieto de Zé Negão, José Elias do Nascimento, seu pai. Herança musical. De pai para filho Apesar de preferir tocar sax tenor é o sax soprano o instrumento mais permanente em sua vida profissional. Vida e talento musical para Jucélio estão marcados, logicamente, por conexões com a história de vida e da música na existência do seu pai, um artista, também, de vários instrumentos – ele tocava sanfona, trombone, contrabaixo