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Mostrando postagens de abril, 2017

Buraco Negro

O desejo de amor quer um canto para dois e planeja seu próprio universo. E à vontade de que passe a existir, cria na própria desordem uma ordem binária de zero e um. Navega-se sem barco, o leme inventado invertido, sobre um denso mar de palavras essa tela de letras,   em estrangeiros países de dramáticos sentimentos. As frases dialogam e são apagadas, Os traço de suas rotas evaporam. Que teclado inútil, que nem à memória dos toques seus afetos sobrevivem. Sobre os navegantes, a regra: nunca, nunca, haverão de se encontrar. Não há lugar a chegar como na dança de Maia. Ilusão que à impermanência de um pequeno planeta, um só gesto o exclui. Onde, únicos, pensam sim ou não apenas, sempre  à beira de um noves fora. Um. Que traga para o que é coisa alguma, o que bem poderia, não sendo zero, ser tudo. Eis-os, então. Navegantes, de uma mesma soma incompreensível Dois,  sozinhos em um buraco negro.

Via messenger

O pequeno menino tem eczemas pelo corpo todo e precisa de cuidado. Sua mãe me pede socorro. Maria Helena anuncia: "As orquídeas serão compradas e postas na varanda" eu imagino o quão feliz ficará o seu cantinho lá em São Paulo, A ela, queria dizer mais coisa além do que disse  e com mais entusiasmo. Custou-me articular as mínimas palavras ditas. E o amor, ah! o amor me pede mais folga. Precisa cumprir com suas obrigações. Falho em todos os pedidos. Perdoem-me. Perdoem-me, vocês, que me pedem algo. Estou meio sonolenta, ainda à porta desta terça-feira, estreando presença indefinida e duvidosa, como alguém que se aproxima de leve à beira-rio e vai molhando com cautela os pés na água fria, sem saber se é isso mesmo o que quer fazer.

Que entenda quem puder

Dentro de casa a mulher entediou-se, e aqui para nós, já não era sem tempo. Desfez-se do avental e na passagem pela varanda pendurou-o no armador da rede. Saíra da cozinha, ajeitando os cabelos com as mãos e passando a língua nos lábios ressecados. Andou até a cadeira de embalo, como dizia o povo do outro tempo, trouxe-a à calçada e sentou-se nela, cruzando as pernas com displicência. Na rua onde as gentes transitavam, viu os carros estacionados e como se o ontem e o agora fossem duas lâminas de uma mesma imagem, colocou-as uma sobre a outra para compará-las. Havia muita diferença à inconsciência generalizada para aquela visão de cidade que se tinha. Ou que alguns poucos tinham. A de hoje se olhamos com atenção é a mesmíssima, vive na inércia desde muito tempo, mas disfarça-se no acúmulo de automóveis parados e pequenas lojas em toda a extensão da avenida, dando-se à impressão de ter crescido. Qual nada. O lugar é o das mesmas conversas de todos os dias. A vidinha de um, a vidinha de