UNO e TRINO
O dia amanheceu. A claridade da manhã entrou pela janela do quarto e acordou a contista. Ela espreguiçou-se, olhou em volta e com seus olhos de quem vê em tudo, uma história a ser contada, achou o dia propício para contar uma. Remexeu de si mesma, sua provisão de idéias, buscou no seu lugar de guardar palavras, aquelas devidamente pontuais para escrevê-las, porque as palavras para quem escreve, assim como as tintas para o artista, é sempre preciso juntá-las como quem junta pessoas numa convivência - com perspectiva de autêntica simbiose -, ou coisas e artefatos, um sem-número deles, que se encaixem como num grande quebra-cabeça, perfeito no final. ‘Escrever é uma atitude sagrada. Requer abstração da realidade. Pelo menos é assim para mim’. Ponderou a contista. Tal pensamento suscitou nela desejo de conferir o que pensara e, emproada, cedeu à luminosa e entusiasta sensação de ser honesta àquilo a que acabara de falar. Dispôs-se a iniciar-se no dia. Adiantando-se, caminhou até o banheiro