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Mostrando postagens de dezembro, 2013

Ao meio-dia

Se chuviscasse no começo da noite, toda a intenção de sair iria por água abaixo. Era assim naquela casa. Não havia o que fazer na rua em dias chuvosos, nem ao meio-dia. Ninguém era besta de colocar os pés além do batente da porta. Era a hora de o diabo andar solto pelo mundo. A larga avenida tornava-se lugar inóspito e a sisudez estabelecida murchava o vento na folhagem das árvores. Via-se o tempo através da janela. Mas isso já faz é tempo. Naquele dia de sol quente e mormaço, Isaura debruçou-se a ver da paisagem faíscas de luzes. Vinham dos arredores. Ela enxergava por assim dizer, com os olhos da casa, por seus grandes olhos de janela, que constantemente vigiavam a serra e as nuvens, e que mendigavam acontecimentos. A mulher, ali, como extensão da casa ou a casa dela, deu por visto, o homem que falava ao microfone. Viu da sua imaginação, a sua estatura, sua voz e toda vez em que gesticulava em frêmito, na tentativa de organizar a confraternização natalina. O aparelho chiava. O su

Fadário

Fui visitá-los. De tardezinha ao chamar por Rosa, a sua vizinha saiu à porta acompanhada da mãe. Duas abelhudas. Rosa apareceu. Vinha de uma confusão de sonhos azedos e trazia as pálpebras inchadas. Fitou-me com os tais olhos da sua enorme apreensão sobre mim e abriu-me a porta desanimada, mantendo-se a certa distância. E já no sofá eu sentara em uma ponta e ela em outra. Chegue pra cá, criatura. Tá com medo de mim? Ela não respondeu. Era tanta a sua aflição, que eu fugi por alguns instantes daquele momento, mexendo no celular para suavizar a tensão. Rosa usou de um fiozinho de voz pra me perguntar: _ E agora? O que é que eu vou fazer? Eu não tinha resposta, senão aquela, de que há solução para tudo. Porém, nem me agradou dizer aquilo e nem a ela, ouvir. Frases genéricas soam como chavões, esvaziados pelo tanto que são usados. Fica o dito pelo não dito, o que é o mesmo que dizer que, para cada situação arquetípica, existe uma frase correspondente, que não responde n

Ao final do dia...

Dona Violeta, a senhora gosta de Lindomar Castilho? E Waldick Soriano? A senhora gosta? Perguntou-me o jardineiro enquanto revolvia sem a menor pressa o chão de terra. Ciscador na mão, ele disse que o instrumento que eu acabara de trazer nas compras, viera a calhar. Arrancava gravetos e amansava modestamente a grama já existente, cantarolando com a voz molenga, que nem de preguiça era. Era de fazer tristeza à canção. Sofredor de todos os amores, dos amores mal empregados, o ciscador servia-lhe para remexer um chão mais profundo e escondido, lá dentro dele. As inflorescências caíam das buganvílias e cobriam o verde de púrpura e lilases. A tarde alaranjou e foi-se escorregando por trás das serras. Corri a acender as luzes do jardim e de volta a ele, respondi ao jardineiro a resposta possível: _Você canta bem essas músicas. Não, ele não canta nada bem, mas canta emocionado. Canta sentindo tanta dor que me faz senti-la também. Então vale. Porque é cheio de sentimentos e é na linguagem d