Bordadeira
Céu de nuvens e o azul esmaecido, imenso, sobre a minha cabeça. O mundo gira perseguindo o meu destino, e eu a tecer-me de um único fio que serpenteia, à pirueta ancestral de outros bordados. A minha sina é a de ser bordadeira, dando ponto, à extensa toalha, de fazer da vida arte. Tenho, por fim, que bordar. Pede-me o cansaço que eu seja ao universo a auspiciosa viajante, E que fuja da fatigante tarefa, como laçada de crochê, que escapou da agulha e dos dedos da artesã, renegando o bordado. Mas eu, que já nasci presa ao meu fio, bordo cabriolante, à dor e à alegria, fincando meus pontos no mundo.