BURACO DE ENTULHOS
A cama onde durmo não me serve. Levanto com todas as articulações doendo. Hoje olhei o dia pela janela. Faz um solzinho frio, e a paisagem é calma. Notei uma borboleta de um amarelo-quase-ocre, com lindas listras pretas, cumprindo fielmente a sua natureza de invertebrado. Tive um desejo enorme de ser inseto, de encher as patinhas de pólen, de voar de flor em flor, por entre as buganvílias aqui de casa. A Deus, o maior dos mistérios entre todos os outros, tenho o hábito de pedir, porque já é um hábito que a minha avó, sabida, me ensinou: Ô Margarida minha filha, a Deus a gente pede é o dom da sabedoria, assim como fez Salomão! Foi o rei mais sábio da Bíblia!. Foi mesmo, vovó?. Levei a vida toda só insistindo: Ô meu Deus, me dê sabedoria, vá... Acostumei. Todo dia, de chuva ou de sol, que nem o dia de hoje, claro, iluminado e cheio de borboletas, chateio Deus pedindo o precioso dom. Minha avó deve estar lá, pertinho Dele, vendo que eu, que me esforcei o tempo todo, desde pequena, para n