MarGarida
As flores fenecem cedo. Você não sabia? Só pude entender agora, depois de chorar por dentro, a sua seiva interrompida no caule, as suas pétalas, caindo no decorrer da semana. Os meus últimos signos da infância somem-se na lembrança dos fundos da casa vizinha. A lenha, o fogo, o lambe-dedos quentinho, a sua voz de vegetal e jardim, batendo arroz num pilão de madeira. Suas mãos ossudas de longos dedos morenos. Os caminhos do inverno, a lama, o quintal da casa onde íamos buscar o leite todas as manhãs. A sua voz me chamando por cima do muro. Só nós duas saberemos eternamente do que isso trata. Porque vivemos num tempo quase encantado, que parecia eterno, na sala, nos quartos, nos bibelôs, nos móveis, no rádio antigo, nas histórias de trancoso, na tosse persistente de Madrinha. Eu era pequena para entender o tempo. Vivi minha infância em seu colo. Vivi a calçada, o mundo incorruptível da Avenida Bráulio Cavalcante, onde diante da folhagem parada das árvores, apenas nós duas balançávamos nu