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Mostrando postagens de novembro, 2009

MarGarida

As flores fenecem cedo. Você não sabia? Só pude entender agora, depois de chorar por dentro, a sua seiva interrompida no caule, as suas pétalas, caindo no decorrer da semana. Os meus últimos signos da infância somem-se na lembrança dos fundos da casa vizinha. A lenha, o fogo, o lambe-dedos quentinho, a sua voz de vegetal e jardim, batendo arroz num pilão de madeira. Suas mãos ossudas de longos dedos morenos. Os caminhos do inverno, a lama, o quintal da casa onde íamos buscar o leite todas as manhãs. A sua voz me chamando por cima do muro. Só nós duas saberemos eternamente do que isso trata. Porque vivemos num tempo quase encantado, que parecia eterno, na sala, nos quartos, nos bibelôs, nos móveis, no rádio antigo, nas histórias de trancoso, na tosse persistente de Madrinha. Eu era pequena para entender o tempo. Vivi minha infância em seu colo. Vivi a calçada, o mundo incorruptível da Avenida Bráulio Cavalcante, onde diante da folhagem parada das árvores, apenas nós duas balançávamos nu

Magnólia

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Naninho esteve aqui em casa. Veio pedir para a minha avó fazer uma ‘caridade’ a ele. Ou melhor; duas caridades: uma a ele e outra à Magnólia, que não vai nada bem da cabeça. “Eu fico com ela Naninho. Passo uma temporada” que o coitado precisa arar a terra dele, plantar, aproveitar a chuva. Magnólia chegou depois de uns dias, meio assustada e cheia de desconfianças: “Na minha aposentadoria ninguém mete a mão, que ainda vai aparecer quem me roube”! “Não é porque a senhora é minha tia, que eu vou descuidar. Aqui todo mundo é ladrão”. Veio de mala e cuia, trouxe mochilas de plástico, com uma papelada dos diabos dentro. Chegou fazendo e dizendo coisa que nunca havia feito, nem dito. A ‘pobrezinha’ com o juízo atrapalhado, enveredou também pelo erotismo e deu pra dizer pornografias a torto e a direito pelo meio da casa. Magnólia tem nome de flor, mas não faz jus ao nome. É uma “branquela”, magra e envergada pela coluna troncha, como se não bastasse a ela a corcunda, que carrega o peso dos se