Essas dores do mundo
Certa vez escrevi um conto que se chama: Como Espinha de Peixe . Volto a lembrá-lo, porque hoje, dia do folclore, minha memória retorna à tradicional Festa de São Sebastião. Volto aos dias de todos os anos, quando pessoas humildes e muitas, marginalizadas, desciam do Alto da Carrapateira, lá em minha terra, pedindo ajuda para fazer a sua festa. São Sebastião, crivado de flechas constelava em mim a memória inexistente de uma dor alheia, de vários furos, de onde jorrava sangue. O seu olhar, voltado para cima, supliciado, o fazia oscilar sobre o andar de quem o transportava, dentro de um oratório, como quem carrega uma criança pequena nos braços. Estarei enfeitando demais a minha narrativa? Seria o oratório apenas e tão-somente uma caixa de sapatos? Há tempos que misturo as imagens em minha cabeça, e confundo o que foi, com aquilo que a poesia me faz pensar que houvera sido. Minha alma me ultrapassa, perigosamente, e segue em minha frente contaminando minhas memórias, pincelan