Amor declarado
Ester foi desta para uma melhor. Morreu como o hamster de Negão; silenciosamente, num cantinho da gaiola. Só demos fé quando as formigas começaram a rodeá-lo. Deitadinha virada pra parede deu um suspiro agoniado curto e rouco, e quando a gente foi acudi-la, ela já tinha ido embora. Dois dias antes, eu tinha chamado o padre Inácio lá, que levou os santos óleos para benzê-la. Foi dar a Unção dos Enfermos a ela. Aquele óleo roxo eu fui ver pra que servia: era pra fortalecê-la na provação da doença e dar força pra ela enfrentar a dor e a morte, que a gente notava, àquela hora, ser da vontade de Deus. ‘Reze comigo dona Ester’ dizia o padre. O que? Ela respondia. É pra rezar o quê? Todo mundo que estava no quarto riu. O dia da morte se aproximando e ela fazendo graça. Não estranhava morrer não. Nunca estranhou. Lembro quando o meu primo Maneco bateu as botas. Ela não derramou uma lágrima sequer, que não tinha precisão disso não, minha gente. “Só chorei quando a minha mãe morreu e pronto.