Mãe Tina, hoje eu acordei com saudades do seu quarto escurinho, do seu guardarroupa, que eu fantasiava e o enchia de mistérios, do seu cheirinho de Musk, aquele perfume que a senhora literalmente derramava pelo corpo todo, das nossas conversinhas miúdas e de pé-de-orelha, de tanta coisa, que me dói e ao mesmo tempo me faz sentir premiada. Escrevo para avisá-la de que o meu tempo chegou: vou ser a avó de Isadora, e diante desta nova fase em minha vida, tenho me lembrado da senhora, muito mais do que sempre lembrei, desde o dia que deixamos de nos ver. Tudo é lembrança: os dias de domingo, os seus passinhos rápidos, andando sobre o passeio das praças, o terço envolvendo uma das mãos, junto com a echarpe, o missal, o tubinho azul-marinho do apostolado, sapatos de salto baixo, mas de salto, os olhos miudinhos e sempre adivinhos, saídos da missa matinal. O seu menor afastamento de casa me causava saudade. Era como se à sua saída, a condição da alegria também se ausentasse. A senh