Contextos carnavalescos
Palco armado no centro da cidade, a banda iniciou a festa tocando
marchinhas. Mal os músicos interpretavam a terceira música, algumas
pessoas já acenavam pedindo que elas fossem substituídas pelas de forró.
Diga-se, aquele que nada mais é do que restos simbólicos da nossa
cultura. Barulho ensurdecedor, sons
instalados em automóveis que nos estremecem por dentro, indefinição de
ritmos, invasão da privacidade alheia, são algumas das situações
observadas nos dias de Carnaval, onde cada um faz a sua festa
particular.
Foi-se o tempo em que os festejos carnavalescos uniam pessoas em torno
de ritmos que traduziam a animação cadenciada do frevo ou das escolas de
samba.
Pelo menos é a tendência registrada nas cidades sertanejas alagoanas, o
que supõe sua reprodução em outras regiões, dentro e fora de Alagoas.
Na confusão total, ouve-se de tudo e presencia-se falta de bom senso,
seguida da demonstração de falta de educação, desrespeito pelos outros.
Instalados em automóveis é cada vez maior a parafernália de
equipamentos sonoros. Cada qual traz consigo a sua festa e achando
pouco, acampam nas praças, nas esquinas, nas ruas e colocam seus sons no
volume máximo, obrigando as pessoas a ouvirem aquilo que eles gostam.
Ninguém liga em saber se nas casas há idosos, pessoas doentes ou
crianças pequenas. Não procuram saber se as incomodam. O principal
objetivo parece ser o de competir com outros, que também disputam o
espetáculo do show particular.
De péssimo gosto, as músicas são uma cantilena repetitiva, vazias de
mensagens. E o que se presencia, tristemente, é a dissociação dos
elementos que mantinham sentido às festas, como o Carnaval: a capacidade
de agregação dos membros da comunidade, em torno de um festejo que
tinha o objetivo de abrir as portas do lúdico como divertimento
compartilhado por todos. Preocupa que as festas tendam a ser a
reprodução exata de um mesmo falso divertimento. A originalidade e as
características das festas populares, vão sendo estreitadas, até
caberem, por fim, ao que parece, a apatia das mesmices.
Blocos de fantasiados, perdidos e sufocados pelos sons estridentes dos
carros de particulares, saem patéticos, quase deslocados, sem os
aplausos e sem os vivas da assistência, sem o séquito que se faziam
acompanhar. Giram em torno da avenida principal, fazendo zigue-zagues e
vão-se diluindo até voltar de onde partiram. Tentativas quase vãs, de
devolver a folia aos foliões, que pelejam todos os anos para ocuparem
seu espaço. No mais, tudo é confuso, desordenado e reflete um ambiente
neurótico, fragmentado, onde cada qual é um, rodeado de outros uns não
menos confusos.
Todos, porém, sendo parte da hoste dos pequenos soldados que funcionam incrementando a própria desconstrução. A impressão
que se tem é que todos os elementos presentes nas festas atuais trazem
no barulho, na insurreição sonora, a ausência de comportamento saudável à
convivência em sociedade. É o vácuo na dinâmica do entrosamento e
compartilhamento social. Um mecanismo necessário para escamotear o
silêncio, a solidão e o individualismo egoísta. Apatia, aridez, e
alienação galopante, são reforços aos sintomas doentios da sociedade
moderna.
É, Goretti, é triste. É a perversão, nitidamente... Alguns acham que são a própria Lei, que tudo pode ser do jeito que lhe convém, e não do que o bom senso poderia mandar. Eu não conheço o carnaval (porque aqui em casa só o meu avô é um folião - e, hoje em dia, se restringe a ser espectador), não tenho nostalgia nesse sentido (até pelo que não vivi, como costumamos sentir), mas sofro bastante pelas heranças que se perdem e me pergunto no que isso vai dar, o que vem pela frente, pois parece que tudo está se esgotando, de certa forma.
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirPassei por aqui e li seu texto e concordo com tudo.
Tenho saudade do verdadeiro carnaval.É uma pena que deturparam muito.
Passo a te seguir
Grande abraço
se cuida
Olá! Agradeço a passagem e a permanência em meu blog! Fico feliz!
ExcluirOutro abraço!