Postagens

Mostrando postagens de junho, 2012

Arte para aliviar a dor

Imagem
Viva o Trio Nordestino!! Para o sertanejo autêntico, desses acostumados a se vangloriarem das coisas do sertão, basta mesmo um triângulo, um zabumba e um bom cantor que saiba tirar notas de uma sanfona e que tenha a goela temperada, para que ele, satisfeito, arrepie os pelos e a alma. Refiro-me ao famoso trio nordestino, tão bem reproduzido pelos escultores populares, em suas peças de barro, que se apresenta quando chamados aos lugares, durante os festejos juninos. A impressão que se tem, é a de que todos os trios são um só, fazendo a alegria de todos e na mesma hora. É a onipresença sertaneja que modela os artistas populares, em um mesmo formato de rosto e uma mesma missão – a de perpetuar as nossas matutas singelezas – a de espalhar canções, a evocar saudades das Marias Fulôs, tantas, e em todos os Estados nordestinos, que a seca por haver amarelado o marmeleiro, determina, por fim, a desesperança do seu amado e atrapalha o amor, condenando os amantes à separação.

Bom dia, Ozu!

Imagem
 O cinema japonês: sobre a mediocridade da vida A vida é simples, não fosse tanta coisa que a gente vai agregando, possuindo e se acercando para viver. Basta ver a quantidade de apetrechos que se tem em uma casa. Parte daquelas coisas está ali enchendo espaços, virando entulho, atrapalhando, e tão pouco ou nenhuma vez sendo utilizadas. Por que se compra tanta coisa? Por que essa procura insaciável por coisas que estimulam em nós, prazeres e sensações fugazes, que logo se esgotam e nos deixa atrás de mais coisas? Yasujiro Ozu Vida e Viver. Entre uma coisa e outra há bastante diferença. Respirar, correr, dormir corresponde às certificações de se estar vivo, mas viver supõe a utilização desses recursos básicos. De preferência, da melhor forma possível. Um dia a gente sai da vida, mas a vida permanece. É o milagre que se repete em todas as espécies que povoam a Natureza, esse útero onde o continuum acontece. Cena do filme Bom Dia Há uma linha invisível, entre a vida

Hibernal

Dia de chuva. O tempo nublou de repente e as gotas d'água cairam pesadas... Da cozinha vi que a tarde sombria havia distanciado a paisagem. Hibernal é o meu desejo de deitar sob cobertas quentinhas, entrar em proposital letargia, adormecer-me. Porém, outros desejos me sacodem, como miúdas vontades que se aglutinam e estampam um inverno, que evoco da lembrança de outras chuvas.  Movo antigos símbolos, remexo-os, trago-os à tona. Deixo que fiquem guardados os pijamas de flanelas feitos em casa, as galochas e o barulho dos passos nas poças lamacentas, da criança que em mim, atendia o chamado da mãe. Ela, que já não sou eu, mas, a pequena amadora atriz, eternizada no lugar que me lembra, e que repete encenações, só para alegrar-me do que fui.  Estou certa de que fui embora. Tenho me feito em outras. Minha mão é que retorna, às vezes, infantil. Tateando memórias, sentindo a gravíssima e afetada textura do cobertor de lã, espinhento...  Essas coisas eram, foram-se evapora