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Mostrando postagens de junho, 2020

Fora do contexto

Menina, então você soube? Seu Cristóvão veio da rua com o cão no corpo e saiu quebrando tudo. Quando dona Dida foi chegando viu que a porta já estava cheia de gente. Fiquei sabendo que o seu Chico, amigo da casa, foi atrás dela, avisar. Tinha ido fazer uma visita na rua de cima e levado os netos. A primeira coisa que avistou, foi a cristaleira que estava no chão, vidro quebrado por todo lado. Uma bagaceira só. Logo ela que tem tanto cuidado em proteger as crianças do que machuca o coração. Irene, você precisava ter visto. Eu não, que não gosto de ver coisa assim violenta que me encho de tristeza. Perco o dia. Tanto que nem quis falar pra Toinho. Você conhece a natureza dele. De pouca fala, ainda balança a cabeça como lagartixa, quando quer fazer favor. Parece não estar nem aí para o sofrimento alheio e disposição - que é bom -, pra dizer qualquer coisa, não tem. Não se comove e nem consola ninguém. Se vou contar qualquer coisa minha e que me entristece, uma raiva, decepção, ele diz com

Entre vírus, chineladas, e sem uma vela na mão

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Entre vírus, chineladas, e sem uma vela na mão Goretti Brandão   Jornalista e escritora Tossiu, e eu olhei pra ela com receio. A ver pela minha cara, Violeta me disse, olhe Odete, minha tosse é seca assim mesmo. É desde sempre e a minha garganta, se interessa saber, me dói mais à noite. Tenho alergias, você nunca notou? Nesses dias, agora, quando acordo, tenho medo de estar com febre. Mão no pescoço a ver se a temperatura subiu. Não subiu? Então agradeço a Deus. Sorte minha. Mas só amanheço no susto, como se tivesse acabado de vir de muito longe, correndo, e me livrasse por um cabelinho de sapo, do infeliz do vírus. Vou ver Aprígio que dorme que nem anjo e que acorda com um bom dia, Violeta! Saudação de sempre, mas que se faltar, eu cismo logo. Sabe-se lá? Tenho enveredado por pensamentos repetitivos, que se contasse pra Nena ela ia dizer, tá doida, menina? Eu, não. Nem pensar. Maluco de verdade eu conheço uns dois. O medo, não nego. Mas, o meu confronto com ele é na sexta-feira de tar

Poesia

Manhã dessas em Santana do Ipanema, comecinho de inverno. Nem calor nem frio. Raios de sol sobre as calçadas, indo sobre pés doídos, descendo essa porção de ladeiras, a minha sombra que teima em andar comigo, quebra-se nos meios-fios, esgueira-se atrás de mim, oblíqua, e que a si mesma verga, dobra-se nas esquinas fazendo longos vértices. Mais malabarista do que eu, unilateral nos pensamentos, e precisando urgente de reconhecê-la. A praça, seus bancos e as trepadeiras. O vai-e-vem dessa gente a criar cenários móveis, imediatos e únicos. À menção de um cumprimento, ali, e um idoso que ao mesmo instante, atrapalha-se com as próprias muletas, tropeça e cai no asfalto. Acudido, ainda mais atordoado, retoma a marcha. Adiante, tranquilos, vira-latas dormem a sono solto sobre o passeio do centro da cidade. Assombra-me a moldura que o tempo nos dá e às coisas e à cidade. Têm um quê de eu ter sonhado mais do que vivido? Sei lá! Sei que as ruas, as ladeiras, o povo bom, os dias de sol e d