Poesia

Manhã dessas em Santana do Ipanema, comecinho de inverno. Nem calor nem frio. Raios de sol sobre as calçadas, indo sobre pés doídos, descendo essa porção de ladeiras, a minha sombra que teima em andar comigo, quebra-se nos meios-fios, esgueira-se atrás de mim, oblíqua, e que a si mesma verga, dobra-se nas esquinas fazendo longos vértices. Mais malabarista do que eu, unilateral nos pensamentos, e precisando urgente de reconhecê-la.

A praça, seus bancos e as trepadeiras. O vai-e-vem dessa gente a criar cenários móveis, imediatos e únicos. À menção de um cumprimento, ali, e um idoso que ao mesmo instante, atrapalha-se com as próprias muletas, tropeça e cai no asfalto. Acudido, ainda mais atordoado, retoma a marcha. Adiante, tranquilos, vira-latas dormem a sono solto sobre o passeio do centro da cidade.

Assombra-me a moldura que o tempo nos dá e às coisas e à cidade.

Têm um quê de eu ter sonhado mais do que vivido? Sei lá!

Sei que as ruas, as ladeiras, o povo bom, os dias de sol e de chuva santanenses que me acolhem, festejam em mim uma intensa poesia que nunca se esgota.

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