Espantos e deslumbramentos

Eles seguiam em viagem pela estrada. Chovia no tempo e a manhã era molhada, as flores eram molhadas e de cima dos telhados dos casebres, a água descia cantando musiquinha umedecida. A mulher olhava distraída, as encostas no caminho, divisando pequeninas flores. Viu brancas ipoméias , dezenas delas margeando a estrada. Repentinamente, precisou que o tamanho do mundo vasto, era pequeno demais à imensidão do espaço e pôs-se a imaginar que infindáveis aritméticas poderiam contar o infinito. Nenhuma... Ao seu lado, o marido asseverava que eram cinquenta e cinco, o número de países que formavam o continente africano. Um lugar onde nascem mais pessoas e onde mais pessoas morrem. Com quantos números seria possível calcular tanto mistério (?) pensava a mulher, enquanto assentia com a cabeça, sobre a África, os povos, a fome, a vida e a morte. 
Pensava em buracos negros e que faltam bilhões de anos ainda, mas que a Via Láctea e a Andrômeda vão se chocar. Tentou imaginar o tempo cósmico. Uma incerteza a quem a existência no mundo não pode ser contada pelo mesmo relógio imutável. Privilégio, poder estar contida em histórias que pertencem ao Cosmo, girando em um modesto planetinha do sistema solar, como um pequeno sopro de vento que vem e vai embora. A vida é um lugar de espantos e deslumbramentos. 
Seu marido agora versava sobre os países da África portuguesa. Moçambique, Príncipe, Angola, e fazia, objetivo, conjeturas articuladas sobre a terra, esse palco de dramas, derrotas e conquistas. A África é mais um ponto bordado no tecido do mundo, pensou a mulher, que novamente distraída, mergulhou no vão das estrelas, viajando por extensões indefinidas. Enquanto ele falava em continentes e países, ela pensava a Eternidade.

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