Canudos, um lugar...
Canudos-BA |
Saindo de Paulo Afonso e viajando alguns quilômetros em estradas
asfaltadas, o rumo escolhido a seguir, subordina quem quer conhecer
Canudos, no sertão baiano a outro tanto de viagem, agora, por estradas
de barro e pedregulhos. A paisagem aprofunda o viajor por exóticas
gargantas de paredes rochosas, com pouco mais de metro e meio de altura.
Inevitável, a sua vista vai-se acomodando aos poucos, a registrar
bancos de areia, terra vermelha, árvores desfolhadas ou com folhas
secas. Jumentos andam juntos pelas margens dos caminhos. Também as
cabras saltitantes, atravessam a estrada. Há certos momentos em que se
tem a impressão de se vivenciar um déjà vu: Homens montados em cavalos magros, em marcha lenta sob o sol escaldante, à cabeça, seus chapéus de couro
e uma mesma fisionomia empoeirada, que se opõe à alegria com a qual
cumprimentam os estranhos, são imagens que se repetem, constantes, no
decorrer do percurso.
Canudos, a atual, não é mais a mesma cidade,
embora tenha trazido o mesmo nome para três localidades através do
tempo. O lugar onde Antônio Conselheiro (Guerra de Canudos) chegou e se
fixou no século XVIII, fica a 12 km dali, às margens do rio Vaza-Barris.
Tratava-se de uma pequena aldeia no entorno da Fazenda Canudos.
Arara-Azul |
Em 1893, Conselheiro e seus seguidores rebatizaram o lugar, como Belo
Monte. A segunda Canudos surgiu em 1910, sobre suas ruínas e desapareceu
embaixo das águas do açude Cocorobó em 1969. Antes, em 1950 a
construção de uma barragem determinou a sua inundação. Cocorobó era o
nome do vilarejo que em 1985 foi elevado a município, sendo rebatizada
também como Canudos.
Mas, como tudo no sertão nordestino, por trás dos caminhos desolados,
belezas exuberantes se escondem. Em Canudos, o visitante é surpreendido
por grandes vales que, só para sirvam aos interessados como referência,
têm paisagens que lembram o Monument Valley, nos Estados Unidos, um
local bem visitado, onde fica situada a reserva dos índios Navajos. Além
do que, ali se encontra ninhos das Ararinhas Azuis, um pássaro
tipicamente brasileiro.
Espécie ameaçada de extinção, a ave é considerada como uma das mais
belas do mundo. A Arara Azul chega a ter até um metro de comprimento.
Apreciá-las exige que se acorde antes mesmo do dia amanhecer. A marcha
até o local desafia os que se atrevem, mas é um deleite para os olhos e
um refrigério para a alma. A Natureza a postos, diligente, vai se
revelando aos poucos, descoberta pelas primeiras luzes da manhã.
Estátua de Ântônio Conselheiro |
Memorial, Parque, Instituto, são locais em Canudos, que preservam a
História do lugar. As paisagens, por sua vez, revestem lugares
imateriais, nossos, mais sutis. Elas constelam sentimentos inertes, os
adocicam e nos convidam às proezas de conhecer seus viventes, de confiar
neles para nos guiar pelos desafios de andar sobre pedregulhos,
encostas íngremes, vegetação áspera, terra fofa entrando nos calçados,
atoleiros e travessias de riachos.
Em meio a toda jornada, o contato humano com os outros, até então
desconhecidos, é o que alinhava as emoções e borda na nossa própria
história, a narrativa recente, feita com as cores mais bonitas da
experiência vivida, costuradas com as linhas que desenham e unem pontos
para referir significados.
gosto muito da simplicidade do seu texto. é tudo muito claro. quando vc se remete a interior ou lembranças fica ainda mais bonito. parabéns!
ResponderExcluirOBRIGADA,Paulo!!!! Valeu! bjão
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