Soledade tinha ido fazer uma faxina no quarto de dona Aurora e vexou-se em pouco tempo de serviço. Encontrou uma caixa de papelão com muito cacareco dentro. Frascos de loção secos, de Leite de Colônia, embalagens de plástico de Leite de Rosa, Charisma, carretéis de linha, mochilas de papel. Oh, mamãe, venha aqui, por favor. Dona Aurora que mexia um doce de leite na cozinha, deu descanso à colher de pau sobre um pires, e sem tirar o avental, caminhou com passos ligeirinhos e sem arrastar os pés até o quarto. A filha, impaciente, quis tirar satisfação sobre aquele troço todo, que à primeira vista, desnecessários, só servia para atrair baratas. Para que tanto lixo guardado, mamãe? Vamos jogar isto tudo fora. Dona Aurora, do alto de seus mais de setenta anos, encheu as ventas de fogo e correu os olhos dentro das órbitas. Mas... encheu-se de calma e sem alterar a voz, explicou coisa por coisa que ali havia juntado. Percebeu com a mesma calma, prêmio daquela paciência aprendida com os anos, ...
De um lado o caminho de sempre que não é mais o mesmo. Não será jamais. Mas enquanto olho pela janela do automóvel, busco recompor a minha cidade, derrubar esta que é outra, que a outra não me diz o que dizia. Eu tenho que escavar pelo menos cinco décadas soterradas para trazer o presente que há muito prescreveu. Depois de retirada a terra do tempo, anseio ver Kilé, a preta, e o seu tabuleiro cheio de laranjas descascadas e seus roletes de cana. Ela, ali, sentada no lugar de sempre quase à entrada do campo de futebol. Meu pai está comigo e segura a minha mão enquanto caminhamos rumo aos pés do morro. Aos pés da vida, aos pés de tudo. Olho meus dedos fincados no chinelo. E tudo torna-se ventania, e poeira e desejo de eternidade.
A televisão é hoje uma das grandes propagadoras de valores e comportamentos
Não acompanho novelas por achar que se perde tempo com elas. Posicionamento meu, particular, o que não me impede de mesmo assim, sem estar diante da telinha, perceber o efeito que elas, as novelas, fazem na vida das pessoas. Hoje, mais do que a Igreja e a família, a mídia, de um modo geral, é quem dita costumes, valores e comportamentos. Até aí, nenhuma novidade. Esse discurso é caduco. O que me chama a atenção, no entanto, é a maneira como as pessoas reproduzem os "ensinamentos" inculcados pelos meios de comunicação.
Tenho observado o acontecimento das "festas Indianas". Elas se tornaram frequentes entre grupos de mulheres que costumam se encontrar com regularidade. Vi há poucos dias, em álbuns do Orkut (e quem não conhece o orkut?), a quantidade de eventos dessa natureza. Isso me faz pensar sobre o assunto. Diante de fotografias, onde além das roupas típicas da ...
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