Festa do Padroeiro
É com imensa alegria que transcrevo a publicação do último sábado 01/06/2013, das páginas do caderno Saber, do Jornal Gazeta de Alagoas para o meu blog, o poema do amigo de longas datas e de excelentes memórias compartilhadas, Álvaro Ântônio, conterrâneo, filho de Pão de Açúcar.
FESTA DO PADROEIRO - POEMA
Por: ÁLVARO ANTÔNIO MACHADO*
Pronto. João Lisboa terminou a pintura da igreja.
A Matriz está pronta para a festa.
Agora é a vez da Prefeitura limpar o coreto,
iluminar a praça,
construir pavilhões
e organizar a festança.
A paróquia vai convidar as autoridades
e fazer a programação.
Ninguém nega o apoio e
cada um fará sua parte para o brilho desses dias.
As escolas ensaiam os jograis,
as quadrilhas,
os dramas-da-roça,
preparam seus alunos para competir.
O nome do colégio tem que ser respeitado.
Os alfaiates faturam: todo mundo quer
“quebrar a tigela” na festa.
Crianças serão batizadas,
dezenas farão a primeira comunhão.
Zefa vai noivar.
E será que neste ano a Maria casa?
Pra quem mora no “centro” chegou o tempo
de dar uma olhada na roça.
Tem que ter milho verde pra todo mundo,
canjica,
pamonha,
milho assado e cozinhado.
E ainda tem o saco cheinho que vai de presente
pro compadre.
O dinheiro da roupa nova e dos “gastos-de-festa”
já está separado.
Tá tudo certinho.
O patrão sabe que é época de fazer caridade.
Quem pede, recebe, na festa do padroeiro.
Mais tarde, Jesus recompensa.
Os quartos dos hóspedes estão arrumados.
É certeza vir parente de fora.
E ainda existem os inúmeros afilhados
que não podem ser esquecidos.
O Bar do Pinto vai faturar alto. É ele que venderá
as bebidas nos dias da festança.
E será que neste ano Zé Negão vai animar a brincadeira?
O padre dá os últimos avisos:
Ninguém deve deixar de receber Jesus no coração.
Haverá confissão comunitária.
Deve-se comungar com fé
e não esquecer de pedir progresso pra cidade.
Os noiteiros já estão certos.
Do interior vem gente a cavalo,
de carroça,
de carro-de-boi,
de jumento.
Vem gente de Meirus, Lagoa de Pedra, Machado,
do Limoeiro, da Ilha do Ferro, de todo esse sertão.
A festa este ano vai ser em três dias.
E olha lá! Já raiou o primeiro!
Começou a festa do Sagrado Coração de Jesus!
– Bom dia, Rosa. A igreja já está aberta?
– Ora se tá, dona Sinhá, nunca vi tanta gente.
É menino pra danar, tudo de roupa igual,
pra fazer a primeira comunhão.
Vá lá, dona Sinhá, num perca a festa não!
A meninada domina a manhã.
É a primeira dona da festa.
À tarde vai ter crisma,
batizado,
casamento,
tudo feito pelo bispo e pelos padres de fora.
À noite é o quente: a Praça da Matriz nunca foi tão pequena.
Ninguém pensou que o pavilhão deveria ser maior.
– Vamos, minha gente, todos aplaudindo o número de folclore
do Grupo Escolar Bráulio Cavalcante...
“Meu São José dá-me licença
para o pastoril dançar...”
– Pessoal do norte e do sul: quem é mais forte, o vermelho ou o azul?
“Sou a Diana não tenho partido
o meu partido são os dois cordões...”
– Atenção, pessoal! Tá na hora do Fogo-de-Vista...
E a festa continua...
Segundo dia – mais bonito que o primeiro.
– Atenção, atenção, o bingo vai começar:
dou-lhe uma,
dou-lhe duas,
dou-lhe três!...
– Pra fechar a cartela: dois patinhos na lagoa...
– Cavalheiros, procurem suas damas: tá na hora
da quadrilha iniciar...
– Olha a cocada!
– Olha o peito-de-véia!
– Pé de nego é aqui!
– Olha a broa!
– Olha o flau geladinho na hora...
– Vai começar o leilão! Vamos participar e ajudar a Igreja!
Vai e vem de gente
Suor
Perfume do mato
Vestido rendado
Dinheiro no bolso
e na mesa do jogo.
Conversa muita.
– Veja, Lourdes, quem são aqueles?
Gente de fora?
– Sim, Dona, eles disseram que nossa festa
é muito falada por aí afora.
Por isso vieram na sexta
e só voltam amanhã de noite.
A cidade deixa de ser branca
(aliás, nunca o fora, mas gostam de chamá-la assim)
Na Festa do Padroeiro tudo é colorido
multicolorido.
E no domingo...
Logo cedo o clima é de festa.
Nas portas das casas tem de tudo:
as mais variadas flores
folhas de palmeiras e de coqueiros
jarros de todo tamanho.
O “velho Chico” comanda a alegria matinal.
Tá cheio de gente sorridente
crianças
muita canoa
muito movimento.
É banho de sol e de água.
Água pura, cristalina!
E à tarde – a procissão.
Um formigueiro de gente.
Todo mundo louvando o Sagrado Coração de Jesus.
“Olhos fitos na hóstia divina
Adoremos um Deus Redentor
Esta terra imortal paladina
Ama e vive o mistério do amor”...
A Cruzada
O Apostolado da Oração
As beatas
Os homens de vermelho
A banda de Bubu
Seu Leó.
– Vavá, veja que quadro lindo do nosso padroeiro,
feito pelos alunos do Ginásio!
– Verdade, comadre Carmelita, como tá linda a procissão!...
A concentração em frente à Matriz.
– É gente que não acaba mais, Achillina.
– É mesmo, Haidéa.
A missa campal.
O coro das zeladoras do Coração de Jesus,
Diamantina, Palmira Pastor, Alice...
vozes unidas numa só oração
pra louvar o Sagrado Coração.
A oratória do padre Petrúcio.
Um discursão...
E a prestação de contas:
- Obrigado a João da Farmácia, que contribuiu
com um garrote para nossa festa...
O beijo no santo.
O dinheiro pra igreja.
E a alegria da última noite.
“Boa noite meus senhores todos
Boa noite senhoras também...”
– A benção, meu padrinho!
– Deus lhe abençoe e lhe dê muita saúde!
– Olha a castanha assada
– A modinha
– Olha a coruja
– Quebra-queixo do bom
– Olha o lambe-dedo...
Haja ouvido pra tanta zoada boa.
Os barcos subindo e descendo
O tiro-ao-alvo
A cerveja pra uns
A cachaça pra muitos.
E o serviço de som:
“Atenção menina do vestido vermelho:
Aceite esta música como prova de muito amor e carinho.
Assina: você já sabe!”
Gente de todo tipo andando pra todo lado.
Mulher com menino nos braços
e na barriga.
A sorte sendo tentada aos montes
Na ‘francesa’ de seu Artur
E no bingo de Jessé.
E o povão admirando
o reizado de seu Pedro da Paz:
“A rabada do boi é da rapaziada
Yayá... Seu boi me dá...
A tripa gaiteira é das moças solteiras
Yayá... Seu boi me dá...”
A noite é curta
os dias são curtos
o ano é curto.
Longa mesmo só a festa
do padroeiro de Pão de Açúcar..
* É médico e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, revisita as festas juninas do padroeiro de Pão de Açúcar, o Sagrado Coração de Jesus, como eram realizadas na década de 70, no século passado.
A Matriz está pronta para a festa.
Agora é a vez da Prefeitura limpar o coreto,
iluminar a praça,
construir pavilhões
e organizar a festança.
A paróquia vai convidar as autoridades
e fazer a programação.
Ninguém nega o apoio e
cada um fará sua parte para o brilho desses dias.
As escolas ensaiam os jograis,
as quadrilhas,
os dramas-da-roça,
preparam seus alunos para competir.
O nome do colégio tem que ser respeitado.
Os alfaiates faturam: todo mundo quer
“quebrar a tigela” na festa.
Crianças serão batizadas,
dezenas farão a primeira comunhão.
Zefa vai noivar.
E será que neste ano a Maria casa?
Pra quem mora no “centro” chegou o tempo
de dar uma olhada na roça.
Tem que ter milho verde pra todo mundo,
canjica,
pamonha,
milho assado e cozinhado.
E ainda tem o saco cheinho que vai de presente
pro compadre.
O dinheiro da roupa nova e dos “gastos-de-festa”
já está separado.
Tá tudo certinho.
O patrão sabe que é época de fazer caridade.
Quem pede, recebe, na festa do padroeiro.
Mais tarde, Jesus recompensa.
Os quartos dos hóspedes estão arrumados.
É certeza vir parente de fora.
E ainda existem os inúmeros afilhados
que não podem ser esquecidos.
O Bar do Pinto vai faturar alto. É ele que venderá
as bebidas nos dias da festança.
E será que neste ano Zé Negão vai animar a brincadeira?
O padre dá os últimos avisos:
Ninguém deve deixar de receber Jesus no coração.
Haverá confissão comunitária.
Deve-se comungar com fé
e não esquecer de pedir progresso pra cidade.
Os noiteiros já estão certos.
Do interior vem gente a cavalo,
de carroça,
de carro-de-boi,
de jumento.
Vem gente de Meirus, Lagoa de Pedra, Machado,
do Limoeiro, da Ilha do Ferro, de todo esse sertão.
A festa este ano vai ser em três dias.
E olha lá! Já raiou o primeiro!
Começou a festa do Sagrado Coração de Jesus!
– Bom dia, Rosa. A igreja já está aberta?
– Ora se tá, dona Sinhá, nunca vi tanta gente.
É menino pra danar, tudo de roupa igual,
pra fazer a primeira comunhão.
Vá lá, dona Sinhá, num perca a festa não!
A meninada domina a manhã.
É a primeira dona da festa.
À tarde vai ter crisma,
batizado,
casamento,
tudo feito pelo bispo e pelos padres de fora.
À noite é o quente: a Praça da Matriz nunca foi tão pequena.
Ninguém pensou que o pavilhão deveria ser maior.
– Vamos, minha gente, todos aplaudindo o número de folclore
do Grupo Escolar Bráulio Cavalcante...
“Meu São José dá-me licença
para o pastoril dançar...”
– Pessoal do norte e do sul: quem é mais forte, o vermelho ou o azul?
“Sou a Diana não tenho partido
o meu partido são os dois cordões...”
– Atenção, pessoal! Tá na hora do Fogo-de-Vista...
E a festa continua...
Segundo dia – mais bonito que o primeiro.
– Atenção, atenção, o bingo vai começar:
dou-lhe uma,
dou-lhe duas,
dou-lhe três!...
– Pra fechar a cartela: dois patinhos na lagoa...
– Cavalheiros, procurem suas damas: tá na hora
da quadrilha iniciar...
– Olha a cocada!
– Olha o peito-de-véia!
– Pé de nego é aqui!
– Olha a broa!
– Olha o flau geladinho na hora...
– Vai começar o leilão! Vamos participar e ajudar a Igreja!
Vai e vem de gente
Suor
Perfume do mato
Vestido rendado
Dinheiro no bolso
e na mesa do jogo.
Conversa muita.
– Veja, Lourdes, quem são aqueles?
Gente de fora?
– Sim, Dona, eles disseram que nossa festa
é muito falada por aí afora.
Por isso vieram na sexta
e só voltam amanhã de noite.
A cidade deixa de ser branca
(aliás, nunca o fora, mas gostam de chamá-la assim)
Na Festa do Padroeiro tudo é colorido
multicolorido.
E no domingo...
Logo cedo o clima é de festa.
Nas portas das casas tem de tudo:
as mais variadas flores
folhas de palmeiras e de coqueiros
jarros de todo tamanho.
O “velho Chico” comanda a alegria matinal.
Tá cheio de gente sorridente
crianças
muita canoa
muito movimento.
É banho de sol e de água.
Água pura, cristalina!
E à tarde – a procissão.
Um formigueiro de gente.
Todo mundo louvando o Sagrado Coração de Jesus.
“Olhos fitos na hóstia divina
Adoremos um Deus Redentor
Esta terra imortal paladina
Ama e vive o mistério do amor”...
A Cruzada
O Apostolado da Oração
As beatas
Os homens de vermelho
A banda de Bubu
Seu Leó.
– Vavá, veja que quadro lindo do nosso padroeiro,
feito pelos alunos do Ginásio!
– Verdade, comadre Carmelita, como tá linda a procissão!...
A concentração em frente à Matriz.
– É gente que não acaba mais, Achillina.
– É mesmo, Haidéa.
A missa campal.
O coro das zeladoras do Coração de Jesus,
Diamantina, Palmira Pastor, Alice...
vozes unidas numa só oração
pra louvar o Sagrado Coração.
A oratória do padre Petrúcio.
Um discursão...
E a prestação de contas:
- Obrigado a João da Farmácia, que contribuiu
com um garrote para nossa festa...
O beijo no santo.
O dinheiro pra igreja.
E a alegria da última noite.
“Boa noite meus senhores todos
Boa noite senhoras também...”
– A benção, meu padrinho!
– Deus lhe abençoe e lhe dê muita saúde!
– Olha a castanha assada
– A modinha
– Olha a coruja
– Quebra-queixo do bom
– Olha o lambe-dedo...
Haja ouvido pra tanta zoada boa.
Os barcos subindo e descendo
O tiro-ao-alvo
A cerveja pra uns
A cachaça pra muitos.
E o serviço de som:
“Atenção menina do vestido vermelho:
Aceite esta música como prova de muito amor e carinho.
Assina: você já sabe!”
Gente de todo tipo andando pra todo lado.
Mulher com menino nos braços
e na barriga.
A sorte sendo tentada aos montes
Na ‘francesa’ de seu Artur
E no bingo de Jessé.
E o povão admirando
o reizado de seu Pedro da Paz:
“A rabada do boi é da rapaziada
Yayá... Seu boi me dá...
A tripa gaiteira é das moças solteiras
Yayá... Seu boi me dá...”
A noite é curta
os dias são curtos
o ano é curto.
Longa mesmo só a festa
do padroeiro de Pão de Açúcar..
* É médico e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, revisita as festas juninas do padroeiro de Pão de Açúcar, o Sagrado Coração de Jesus, como eram realizadas na década de 70, no século passado.
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