Mulher: um animalzinho de estimação?


Ilustração: Goretti Brandão
O mosaico de opiniões e posicionamentos sobre o Projeto de Lei da autoria da deputada baiana Luiza Maia, que tem como objetivo a proibição do financiamento público de coreografias e músicas que colaboram para denegrir o sexo feminino é tratado como polêmico. Por outro lado a sua preocupação com a imagem cada vez mais banalizada da mulher, que as letras de determinadas músicas divulgam, propicia a discussão a respeito do assunto. Isso é, no mínimo, um bom começo.

À notícia estampada vejo a opinião das pessoas, que ficam divididas entre concordarem ou não com a aplicação da lei, caso o projeto consiga passar pelas três comissões que o avaliarão. Alguns criticam a atitude da deputada, achando que há coisa melhor a se fazer no momento. Outros afirmam e em muitas ocasiões, até com certa razão, que as mulheres: “elas gostam de ser esculhambadas” e ainda, que: “(...) toca aí uma dessas músicas prá ver se não tem um monte de mulher que começa a rebolar até o chão (...)”. Não há como duvidar disso, visto que tal comentário evidencia os fatos que estamos presenciando, cada vez com mais freqüência e ‘naturalidade’.

Na maioria dos comentários, no entanto, as pessoas concordam que algo precisa ser feito, mediante a situação que expõe a mulher de maneira vexatória e com aviltamentos, como ser comparada a um animalzinho de estimação ou um peculiar objeto sexual. A polêmica que foi levantada sobre essa questão é complexa, como outras, e nos ajuda a perceber que abaixo dela, é evidente o que nem sempre é evidente para muitos, ou seja: trata-se de encadeamentos que avolumam uma situação de amplo espectro, envolvendo vários elementos, que estão sendo constantemente infiltrados, como se fossem genuínos dispositivos culturais, firmados sobre tendências comportamentais surgidas naturalmente pela vivência social.

A nossa ‘cultura’ musical é pobre e reflete a nossa pobreza de discernimento, que se confirma, quando manifestações através da aceitação por parte de um número cada vez maior de mulheres e homens, que sequer questionam o teor da sua mensagem, são bastante visíveis. A assimilação fácil e indiscriminada, em praticamente todos os níveis sociais de músicas, que levam à distorção à própria conduta feminina é um problema grave.

É verdade que há muita coisa e em muitos setores da sociedade a serem alvos de Projetos de Lei, por parte de qualquer deputado, mas a preocupação de Luiza Maia é louvável, embora eu não creia que para problemas como esse, uma lei apenas possa revertê-lo, mas pode sim, pelo menos, ampliar nosso interesse sobre ele e suscitar nossa capacidade de questioná-lo. 

O seu posicionamento, em questões que envolvem um olhar sobre ‘produtos culturais’ indesejáveis e ameaçadores à condição social dos sujeitos, embora incipiente e digno de observações, deve ser entendido como uma prática política. E importante.  

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