A Festa da Juventude em Santana do Ipanema é só para os jovens?
Santana do Ipanema/AL Foto - WEB |
Li certa vez, que uma sociedade está em franco processo de desenvolvimento e crescimento intelectual, quando as crianças, as mulheres e os idosos são levados em consideração. Tendemos a seccionar as etapas da vida, dando ênfase à juventude, como o lugar onde ela é mais importante, ou como o espaço de maior valor da existência.
É certo como próprio do jovem, o carregar da semente que promove a transformação da sociedade, em seus mais amplos aspectos, mas é certo também, que não é a juventude quem pode decidir, soberana, os rumos da vida social. Mas é isso que tem acontecido, até mesmo quando se programa uma festa como essa.
Desde a década de 1960, mais especificamente, como um marco de transformações, o mundo mercadológico do sistema capitalista, viu na juventude a possibilidade de destacá-la como, principalmente, consumidora contumaz de seus produtos. Aproveita-se o ímpeto do jovem e o desvia para processos outros, que não aqueles que realmente promovem as mudanças sociais necessárias.
Elege-se a juventude como a menina dos olhos da existência humana, como se a vida só tivesse valor para quem é jovem. Tudo que a antecede ou a precede, fica à mercê do tempo. Entregamos nas mãos dessas gerações de quase adultos, aquilo que pertence àqueles que já viveram as experiências da vida, e que têm lições importantes a dar.
Estamos diante da exclusão da lógica em função do ímpeto. A juventude é o tempo da paixão do humano e não da sua Razão. Os jovens sinalizam às mudanças, mas cabe aos adultos, aos idosos, a quem de direito, aplicarem sobre elas sua sabedoria e o seu conhecimento. Há que se pesar na balança da convivência, dos princípios (que inquestionáveis, são diferentes dos valores que mudam constantemente), para o nascimento saudável de algo novo, abalizado pelos que têm a experiência aguçada.
Acontece que estamos enterrando nossas cabeças na terra, como avestruzes, abrindo mão dos nossos lugares e da importância da etapa de nossas vidas, na construção de um mundo melhor. Desde que os mecanismos de promoção da juventude foram aplicados, o mundo, categoricamente, perdeu seu juízo de senso. É como se tivessem calado a sua consciência. O crivo de julgamento das dinâmicas sociais, sob a ótica da alma, da experiência e do exemplo, como representantes da subjetividade humana, tem se perdido.
E essa perda é a conseqüência causada pelo cerceamento da voz da maturidade, que se encontra na fase adulta e anciã da vida, que hoje se submete sem poder reclamar, à ditadura do novo. Como elementos que suprimem os mais velhos, estão entre outros, a constante exclusão das pessoas, nos processos sociais, de entrosamento, entretenimento, relacionamento...
A opinião de um idoso é dispensada. E essa falta de respeito é reforçada entre muitas outras coisas e situações, pelo modo como as próprias instituições que lidam com gestão pública, em seus mais diversos âmbitos: saúde, educação, cultura, se comportam participando de maneira até inconsciente, na propagação do conceito que desloca o direito ao divertimento, à festa, enfim, a tudo o que diz respeito à celebração da vida, para o único ‘setor’ digno, capaz e eleito, para aproveitá-lo.
Como as crianças (não só de parque de diversão precisa uma criança), os adultos e os idosos podem participar da Festa da Juventude celebrando igualmente a alegria da vida? O que poderia ser oferecido aos santanenses que visitam a sua terra, ávidos de comemorarem o reencontro com os amigos? O que a comissão da organização do evento poderia proporcionar a essas pessoas?
Uma programação que compreendesse todo o tempo da festa e que respeitasse todos os segmentos sociais seria de bom-tom. Que se destinasse à promoção da cultura local, também. Ideias e habilidosos santanenses para levarem isso a termo, não faltam.
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