Pão de Açúcar festeja seus 400 anos de povamento
Um lugar onde a lua beija as águas do rio São Francisco
Ano de povoamento, citado por Moreno Brandão. Claro, que baseado na versão histórica, registrada pelo colonizador português. Data de 1611, a presença das gentes; brancas e indígenas, que fizeram do lugar, diga-se de passagem, belo, local de moradia para todos. Antes, porém, ainda segundo o jornalista, historiador, poeta e, sobretudo, pãodeaçucarense, Moreno Brandão: “Havia apenas um troço de índios Hurumari e uma floresta bonita, ao pé da qual o São Francisco deslizava embalando a sombra verde dos cedros altos”.
O que quer dizer que os nativos da região já ali se encontravam, desde antes da chegada dos portugueses; vivendo, pescando, caçando e admirando as noites de luar, onde a lua beijava as águas do Velho Chico - o Rio Opara dos indígenas -, que em Tupi Guarani significa rio-mar. Mas, convenhamos, que a pesquisa do historiador, embora não contendo dia ou mês, registra o acontecimento em tal ano.
É no decorrer do ano de 1611, no século 17, que no Brasil começa a ser construído o convento do Carmo, no Rio de Janeiro. Em Portugal, Dom João Coutinho assume o cargo de reitor da Universidade de Coimbra e em Londres, no Palácio Whitehall, acontece a primeira apresentação da peça: ‘A Tempestade’ de Shakespeare.
Pão de Açúcar, a Jaciobá dos Hurumari, de uns tempos para cá escrita em nova grafia: Urumaris, localizada no que hoje é a semiarideza alagoana, era reconhecida como povoação, enquanto lá fora, para além dos mares, a Europa ostentava a sua garbosa condição de continente civilizado. Aqui, nossa mata ainda virgem, repleta de verdes, como se fora um paraíso, começava a se chocar de fato, com a realidade da cultura do trabalho do homem branco, antagonista à cultura do trabalho indígena.
Aqui, onde os costumes do colonizador, que compreendem além de outras especificidades, uma fé e uma religião, seriam impostos à força ao nativo, a partir de uma visão e de um conceito etnocêntrico. Aqui ainda, os conceitos pejorativos e ditatoriais de ‘cultura’ intrinsecamente associados à civilidade, passarão a vingar. Comportamento e premissa que, infelizmente, persistem e norteiam posicionamentos de muita gente, até os dias de hoje.
Porém, lá atrás, há não apenas uma história, mas diversas histórias, que vêm sendo tecidas e que constroem um mosaico dinâmico e efetivo, da relação entre povos, costumes, religião, olhares e experiências que se confundem ao longo do tempo, e que conta parte da trajetória feita dos que estamos vivendo a realidade dessa ampla miscigenação, da qual somos frutos, herdeiros e representantes.
A cidade se prepara para no mês de julho comemorar os 400 anos do seu povoamento. Durante as comemorações não podemos esquecer a marca indelével que, mais do que trazemos, somos, de vários povos e várias histórias. Minha bisavó materna era neta de índios, meus avôs paternos eram descendentes de portugueses. Somos os pãodeaçucarenses, inumeráveis, em cada um que somos. Vimos e louvamos com a voz e os olhos dos nossos antepassados indígenas, o espelho da lua: Jaciobá.
E dos nossos próprios olhares, conferimos o registro histórico dos nossos antepassados portugueses, sobre a mesma lua bela e brilhante que faz do lugar e de sua gente, expectadores e testemunhas do seu reflexo sobre as águas do Velho Chico.
Cidade Branca... Não há outro nome tão significativo ao lugar quanto o que o chamavam os indígenas. Torno minhas as palavras de Jorge de Lima, poeta alagoano, quando lamenta em seu poema, Rio de São Francisco:
“Jaciobá - espelho da Lua, por que te chamam Pão de Açúcar?”
Espelho da Lua- Jaciobá- Espelho da beleza infinita, do amor desmedido, espelho da minha vida...
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