O baluarte vivo do folclore e da alma de Alagoas


Balé Folcórico de Alagoas - Foto WEB
Durante a programação que marcou os festejos juninos em Santana do Ipanema, na noite do dia 21, o encerramento das apresentações ficou a cargo do Balé Folclórico de Alagoas, do Grupo TRANSART. Sempre fico maravilhada quando vejo rapazes e moças se movimentarem em cena. Emocionada, como alagoana, amante dos folguedos folclóricos do meu lugar, e interessada, como jornalista, observadora social, em ver nos rostos dos expectadores, em especial em seus olhares e sorrisos, suas mais variadas expressões. Posso afirmar que são muitas e variadas. Mas todas elas, sem exceção, irradiam empatia com o que vêem.

Quem não gosta de apreciar a beleza de um espetáculo cheio de cores, danças coreografadas, figurinos e músicas do cancioneiro popular alagoano? As manifestações folclóricas, quando evocadas, trazem até nós modelos de pura alegria, de uma festa que nasce do coração e da alma do povo e tem a magia de nos levar ao encontro das emoções dos nossos antepassados. Elas nos lembram da capacidade que o homem, e só o homem tem, de criar beleza, de marcar sua presença na jornada da vida, fazendo da arte, o lugar da sua imortalidade.

As apresentações folclóricas, como parte do universo artístico, oferecem momentos de constatação do lado iluminado do humano, e é como se nos aproximasse da perfeição e dos propósitos da divindade. Convida-nos à sensação de um arrebatamento íntimo de profunda numinosidade, e nos coloca de frente à possibilidade da experiência do sagrado. Em maior ou menor grau, o semblante da assistência, composta de crianças, jovens, adultos e idosos, ali na Praça Dr. Adelson Isaac de Miranda, no centro da cidade, refletia que de alguma forma, as pessoas haviam entrado em contato com algum tipo de sensação.

Há uma infinidade de elementos, todos extremamente pessoais, que nos levam a tomar posse de um espetáculo. Quanto mais se tem conhecimento, mais se aguçam os sentidos, que ampliam a nossa capacidade de compreensão e de sentimento às coisas que se nos são apresentadas. Isso é verdade. A própria fruição, o prazer e o significado de uma experiência, variam de pessoa a pessoa. Naquele instante maravilhoso, cheio de tanta energia, cada um se emocionou de uma forma única. Quantas pessoas se sentiram tocadas pela energia transmitida do padrão humano do rigor da ancestralidade? Quem valorou o balé folclórico, como um baluarte vivo do folclore alagoano?

Para a maioria, entretanto, aquilo pode não ter passado por agregação metafórica nenhuma, ficando reduzido à primária emoção bem superficial, provocada apenas pela beleza da exibição. Contando apenas como mais um divertimento, talvez excêntrico e provisório. Isso quer dizer, não simbolizado, consumido simplesmente, sem que se tenha nenhuma ligação mais profunda e consciente daquilo. Muitos não alcançaram a importância e a natureza do Balé Folclórico de Alagoas, como um local de resistência, senão de preservação, como lembrança que nos alerta para aquilo que é ser alagoano: Uma gente alegre, radiosa, criativa, cheia de cor e de luz. A prova disso é que de todos os Estados brasileiros, somos o que possui o maior número de folguedos.

Diante da apresentação de oito peças do nosso folclore, típicas das festas juninas: Coco de Roda, Paidegua e a Boneca, Xaxado, Vaqueiros e Rendeiras, cavalhada, Taieira, Folia, Baianas e Guerreiro/Maracatu o balé folclórico tem o poder de redimir nossas angústias e nos elevar acima das nossas misérias, da realidade de uma gente constelada na imagem de um Estado, como lugar de violência, de povo violento, de terra de ninguém, de injustiças e impunidades, descasos e desonestidades vistas a olhos nus e que nos envergonham diante do restante da Nação. Os folguedos populares remetem à condição histórica, de registro feito por aqueles que nos antecederam. É bela a história que se conta das Alagoas e de sua gente, através dos folguedos.

A diversidade e a compreensão da sua importância no cenário da arte popular alagoana não podem morrer. Precisamos ser ensinadas quanto à relação biunívoca entre folclore e sentimento. Um como sendo o reduto do outro, a sua alma objetivada. Precisamos aprender o que é inerente à manifestação artística genuína e à história. É por isso que é tão urgente que defendamos nossos locais de cultura popular, com unhas e dentes.



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