Chegou a hora de apagar a velinha!
Eu e Diogo no Festival de Inverno/Garanhuns-2010 |
A Diogo, meu filho...
Há exatamente 30 anos, numa noite junina como foi a de ontem, senti as primeiras contrações que culminariam com a chegada do meu primogênito ao planeta Terra, no dia seguinte. Eram 16:10h do dia 28 de junho de 1981.
Guardo na memória como se fora recentemente inaugurada; a atmosfera da sala de cirurgia, as cores da tarde, as conversas entre os médicos, a presença da minha mãe e o cheiro de éter impregnando o local. Algum tempo depois, talvez minutos, pois que perdi a dimensão dele, escutei o choro forte do meu menino e chorei junto com ele, a alegria de tê-lo trazido à experiência da vida.
Guardo na memória como se fora recentemente inaugurada; a atmosfera da sala de cirurgia, as cores da tarde, as conversas entre os médicos, a presença da minha mãe e o cheiro de éter impregnando o local. Algum tempo depois, talvez minutos, pois que perdi a dimensão dele, escutei o choro forte do meu menino e chorei junto com ele, a alegria de tê-lo trazido à experiência da vida.
Meu pequeno anjo sem asas era comprido, carequinha, feio e desengonçado, como quem, desdobrado, depois de nove meses, ali dentro, e agora do lado de fora de mim, se excedesse alongando bracinhos e perninhas magrelas que se agitavam. Conferi cada dedinho: Contei-os. Estavam todos ali no lugar... Era tudo perfeito! Serenei...
Lá fora dos muros do hospital, escutava-se o barulho de bombas, sentia-se o odor da pólvora, e da fumaça, ouviam-se gritos, e como naquele ano o inverno foi rigoroso, fazia muito frio. O dia anoiteceu e eu tinha a certeza de que era outra pessoa, diferente. Sentia um misto de alegria e medo. Sairíamos dali, a criança, para o mundo desconhecido que o esperava e eu, para outra realidade evidente e inescapável, que me conferia a condição e a responsabilidade de ser mãe.
No decorrer desses 10.950 dias, que parecem nada diante de tudo, acumulo sobre a vida que caminha apressada, inapagáveis registros: a primeira palavra balbuciada, as birras da infância, a teimosia, as quedas, as palmadas, os machucados, os brinquedos preferidos e as travessuras de uma criança sempre danada.
Trago comigo reminiscências de todos os seus Natais, Carnavais, os Dias da Criança, as mordidas, em tempos distintos, de dois cães, os medos de alma, o vocabulário ‘exótico’ da puberdade, o alvoroço da adolescência, a faculdade, a formatura, o Exército, as farras homéricas, rapel, mergulho submarino, bungee jump, as tatuagens, a Medicina, as especializações, o casamento. Você virou gente grande!
Nesta data, eu sempre refaço os caminhos da minha lembrança e volto feliz, àquele início de final de tarde, véspera de São Pedro, quando enfim nos conhecemos. Para mim, a poética do paradoxo materno: No seu primeiro entardecer, o meu filho estendia sobre mim, junto com o sol, as luzes avermelhadas do ocaso, e me ensinava naquele instante, sobre o ir além das minhas próprias sombras.
Desde então o meu experimento da sua presença é viver intensamente a luz solar dos dias, e nos finais de tarde, acender lâmpadas para iluminar as noites da vida. Mãe e filho. Criamos laços e perpetuamos afetos ao longo dos anos, e sobre a amizade e o respeito de adultos, aprendemos a construí-los juntos, como pessoas. Sobretudo, como amigos verdadeiros.
Felicidade é comemorar seu tempo de existência e poder ouvir o som da sua gargalhada, descontraída, de menino alegre, que encharca meu coração de profundo contentamento. O seu maior dom é o de estar sempre à vontade no mundo... É genuína a sua alegria ruidosa, que festeja o amor à vida e às pessoas, porque ela ocupa, contamina e ecoa em todos os lugares de dentro e de fora de você. A vida é o presente que sempre lhe oferecerei, porque viver é uma experiência incrível e inesgotável.
Que Nossa Senhora do Livramento, a quem eu o consagrei, Santa Rita dos Impossíveis e o Espírito Santo de Deus o abençoem! Ame e Seja Feliz, meu filho!
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