Anadia: Por que resolver diferenças à bala?

Resolver diferenças apagando vidas, principalmente às de ordem política, acontece desde tempos imemoráveis, próximo até do que se pode chamar de expediente usual. Basta vermos os assassinatos épicos no Senado Romano e no antigo Egito, só para ilustração. A eliminação de oponentes parece ser o caminho mais rápido para quem deseja desobstruir caminhos, esconder falhas e manter-se, sem empecilhos, onde se acha de direito. A meu ver, atitudes e ações desta natureza, revelam da parte de quem as pratica, uma conduta absurdamente egocêntrica, sustentada pela falta de ética, moral e respeito por aqueles que, por divergências, venham a ameaçar seus privilégios ou intenções.

A maneira em como é escolhido o ‘afastamento’ do caminho para quem se torna uma preocupação ameaçadora para tais pessoas, é, sobretudo, covarde. Elimina-se alguém, que de algum modo, coloca aquele que se sente coagido, diante da possibilidade de ter que enfrentar as conseqüências de seus próprios atos. Há casos conhecidos, onde pessoas que contraem dívidas deixam de pagá-las e ao serem pressionadas, resolvem dar cabo do problema, eliminando o credor.

Estupros levam, na maioria das vezes, ao assassinato das vítimas por parte dos estupradores, como ‘solução’ para se esconderem e aos seus atos. Nesse sentido, todos os dispositivos utilizados têm os mesmo desfechos, fatais, sempre com o mesmo objetivo. Em todas as ações criminosas dessa natureza, a necessidade de calar outrem, para que alguém se livre de ter que encarar o que fez ou está fazendo de errado, é parte crucial do contexto.

Egocentrismo que reproduz o desejo infantilizado de recorrer à supressão daquilo que é incômodo, indesejável e que vai frustrar os meus intentos, além de revelar situações, onde a exposição aos outros, daquilo de que sou capaz é inevitável. Por isso priva-se o outro - que tem, direta ou indiretamente, a posse do que o coloca em situação de risco -, do direito à vida, na tentativa de ‘salvar-se’ a si mesmo.

As circunstâncias que envolvem o assassinato do vereador de Anadia, o médico Luiz Ferreira, soma mais um caso com essas características, onde as averiguações iniciais apontam para um crime de caráter político e, ao que parece, levantam suspeitas, a partir de denúncias, de irregularidades na administração da prefeita da cidade.

O protótipo do poder emana forças poderosas e irresistíveis. Disto, a gente pode sempre ter a certeza, ao assistirmos o que as pessoas são capazes de fazer para permanecerem girando em sua órbita.
 

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