Mônica Torres: Alma e Lembranças nas Cores e Crenças do Nordeste


Cores e Crenças do Nordeste
Trabalho da artista
Mônica Torres pode-se dizer, é uma artista plástica ‘inaugurada’ recentemente. Nascida em Palmeira dos Índios, autodidata, ela começou a pintar em 2004, incentivada pela sua mãe, dona Vitória. Seu trabalho é um registro onde estão misturados, símbolos, folclore, cenas, figuras humanas que situam o observador da sua arte, nos recônditos do nordeste. Tão extenso e múltiplo, mas, tão igual, quando se trata de compor imagens que retratam a alma da nossa gente, que se amplia a si mesma e é absorvida pela sensibilidade da artista. Peculiares, como as expressões humanas, por exemplo, pintadas por ela, são os semblantes que confundem nosso olhar e despertam sentimentos paradoxais, assim como é passear em corpo e caminhadas, pelo universo nordestino. Beleza, tristeza, alegria, modéstia, humildade, tudo acontecendo sob um céu de verão, quase eterno, com o qual Mônica se apropria, nos envolve, e nos coloca dentro das cenas, para nos transpassar com a força da resistência humana, nordestinamente nossa.
Em Cores e Crenças do Nordeste, sua terceira exposição individual, que tem início hoje, no Centro Cultural SESI, no bairro da Pajuçara, a artista - que acredita ter feito cerca de mil trabalhos artísticos -, traz para o público, 55 telas pintadas a óleo, com colagens, além de mais 25 garrafas recicladas, trabalhadas com filtro de café e colagens. Os quadros variam de tamanho, indo de 10x50cm, até 150x100cm. Aberta ao público a partir de hoje, a exposição pode ser visitada até dia 29 de abril, das 15h às 22h, das terças aos domingos. A curadoria é de Viviane Duarte Acioli.
Olá Mônica!!!
Ensaio Geral - Como ocorreu a ideia da exposição?
Mônica Torres - A ideia da exposição foi de minha curadora, Viviane Duarte Acioli, pois estava programada para julho.

EG - Como surge a inspiração na artista Mônica Torres?
MT - Minha inspiração não tem momento pra surgir, pode ser até quando estou cuidando do jardim, que adoro mexer na terra e cuidar de plantas...e na maioria das vezes a olhar revistas e fotos, já que pinto o cotidiano das pessoas e em especial o bairro de Jaraguá em Maceió, ao qual tenho muita curiosidade por suas Histórias e Casarões.
EG - As figuras nordestinas, a religiosidade do povo e o folclore são temas fortes em seu trabalho. Parece existir um apelo direto para que se veja aspectos da realidade dentro do contexto onde as imagens se harmonizam. Mas, para adiante do que está exposto, há intenções de despertar o fruidor das suas obras para algo mais? Você busca intimá-lo à reflexão desta realidade apresentada?
MT - Goretti, eu me identifico muito com o Nordeste, e a Fé do Nordestino, apesar de não seguir uma religião, pois creio eu, o artista não pode ter uma religião, e sim todas, por isso ele é um artista! Apesar de eu ser muito elétrica, vejo no olhar triste do nordestino que vive na seca e plantando, uma alegria em sua fé de que um dia irá chover bastante em sua terra, e assim prosperar na vida, quando sobe nos caminhões de romeiros em busca da terra do Padre Cícero Romão Batista, ou mesmo em Aparecida em São Paulo. Não sou ateia, eu apenas creio em Deus acima de tudo e confio nele, creio que ele está dentro de nós e não fora, como muitos acham...
EG - Cores fortes e alegres marcam e caracterizam suas telas. Chama a atenção suas namoradeiras, que na janela se mostram à espera de alguém, além de cenas bucólicas e típicas da roça, como o casamento ou o cotidiano das feiras nas cidades do interior, pelo nordeste afora. O que aproxima, a mantém atraída e o que identifica a artista Mônica Torres com esse universo?
MT - Minhas cores fortes acho que vem de minha alma, sou muito impulsiva, impetuosa e sempre faço e falo as coisas e só depois penso...ai quando vejo, já fiz e pronto. Também me acho uma pessoa forte, pois estou aqui a falar com vc, (risos). Na verdade acho que tudo o que desenho e pinto, vem de minha alma e lembranças que tive ou coisas e fatos que perdi de viver...
EG - É possível nos depararmos com rostos sombrios, que revelam as dificuldades e o sofrimento por que passam os viventes do nordeste. Também, o violeiro que faz modinha, a mulher que toca o pandeiro, destemida, a matuta vaidosa, outra, apaixonada que parece debulhar palavreado carinhoso, no 'pé-do-ouvido' do amado. Como artista, que você sabe recolher da vida, cenas onde as figuras apresentam estereótipos, que muitas vezes passam despercebidas por muita gente. O interesse em retratar tais figuras e em tais instantes, acrescenta ao seu registro artístico, algo que transborda e dá vida às personagens. Como é construído o diálogo entre você e as imagens que você cria?
MT  - As minhas Namoradeiras de olhares lânguidos??? Menina, essas eu tiro da tristeza e alegrias das Mulheres de vida fácil como se fala ainda no Interior do Nordeste. As acho grandes Mulheres que devem ser desenhadas, pintadas, faladas em versos e prosas, pois representam, todas, os sonho de mulheres que nunca tiveram uma chance na vida, e como estão matando as nossas mulheres em Alagoas e no Brasil!!!Tem também as mulheres sonhadoras, apaixonadas, vaidosas que somos todas nós e não uma só... Crio cada trabalho meu em minha mente só em olhar a tela em branco, eu a vejo, pronta e assinada, e se não for assim eu nem começo... Realmente eu acho que todos os meus trabalhos são um pouco de mim, é como um filho e sai de minhas entranhas, sonhos, dores, alegrias, sucesso e fracassos... Sai da saudade que ainda sinto de quem amei e já se foi e nunca mais verei por não estar nesse plano! Cada trabalho é apenas um pouco de mim e não sei como me definir!!!
EG - Religiosidade: Parece acontecer, como parte imprescindível da sua respiração artística. Uma legião de santos conhecidos dos nordestinos, estão inclusos dentre seus trabalhos. Pode-se dizer até que lhe acompanham. Isso tem a ver com questões pessoais ligadas à fé ou eles pontuam, simplesmente, a fé do homem nordestino?
MT - A fé do Homem Nordestina é incrivelmente bela, e incansável... Amo a História e criar a Arte Sacra, da minha maneira, tirando o sofrimento de cada Santo e trazendo a realidade atual... Por isso os faço, puxando pro folclore, e dou movimento a eles... E tenho uma mãe muito religiosa, que isso inspira muito... Apesar de eu não o ser ou seguir uma religião. Minha religião é minha fé é Deus!
EG - Gostaria que você falasse sobre o que espera receber do público que irá prestigiar sua exposição.
MT  - Espero que gostem, curtam e observem todos os detalhes, façam suas criticas boas ou ruins, pois cada quadro tem seu dono, cada pessoa se identifica com um, e o alagoano precisa dar mais atenção aos seus artistas e sua cultura... Espero que a maioria dos que forem ver minha EXPOSIÇÃO CORES E CRENÇAS DO NORDESTE, se identifique com um trabalho e quem sabe o leve para sua casa! Quero agradecer a minha curadora Viviane Duarte Acioli, por mais essa exposição e em especial a você, minha amiga e grande Jornalista/ Artista Plástica, Goretti Brandão.
EG – Sou eu quem agradece a honra de tê-la, aqui, no Ensaio Geral.

Para quem quiser conhecer mais sobre a artista e seu trabalho:
 
Armazém de Artes e Galeria de Artes plástica Mônica Alves Torres
Rua Roberto Simonsen, 555 a., Gruta de Lourdes
Maceió, Brasil – CEP: 57052-675

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