Mônica Torres: Alma e Lembranças nas Cores e Crenças do Nordeste
Trabalho da artista |
Em Cores e Crenças do Nordeste, sua terceira exposição individual, que tem início hoje, no Centro Cultural SESI, no bairro da Pajuçara, a artista - que acredita ter feito cerca de mil trabalhos artísticos -, traz para o público, 55 telas pintadas a óleo, com colagens, além de mais 25 garrafas recicladas, trabalhadas com filtro de café e colagens. Os quadros variam de tamanho, indo de 10x50cm, até 150x100cm. Aberta ao público a partir de hoje, a exposição pode ser visitada até dia 29 de abril, das 15h às 22h, das terças aos domingos. A curadoria é de Viviane Duarte Acioli.
Olá Mônica!!!
Ensaio Geral - Como ocorreu a ideia da exposição?
Mônica Torres - A ideia da exposição foi de minha curadora, Viviane Duarte Acioli, pois estava programada para julho.
EG - Como surge a inspiração na artista Mônica Torres?
MT - Minha inspiração não tem momento pra surgir, pode
ser até quando estou cuidando do jardim, que adoro mexer na terra e
cuidar de plantas...e na maioria das vezes a olhar revistas e fotos, já
que pinto o cotidiano das pessoas e em especial o bairro de Jaraguá em
Maceió, ao qual tenho muita curiosidade por suas Histórias e Casarões.
EG - As figuras nordestinas, a religiosidade do povo e o
folclore são temas fortes em seu trabalho. Parece existir um apelo
direto para que se veja aspectos da realidade dentro do contexto onde as
imagens se harmonizam. Mas, para adiante do que está exposto, há
intenções de despertar o fruidor das suas obras para algo mais? Você
busca intimá-lo à reflexão desta realidade apresentada?
MT - Goretti, eu me identifico muito com o Nordeste, e
a Fé do Nordestino, apesar de não seguir uma religião, pois creio eu, o
artista não pode ter uma religião, e sim todas, por isso ele é um
artista! Apesar de eu ser muito elétrica, vejo no olhar triste do
nordestino que vive na seca e plantando, uma alegria em sua fé de que um
dia irá chover bastante em sua terra, e assim prosperar na vida, quando
sobe nos caminhões de romeiros em busca da terra do Padre Cícero Romão
Batista, ou mesmo em Aparecida em São Paulo. Não sou ateia, eu apenas
creio em Deus acima de tudo e confio nele, creio que ele está dentro de
nós e não fora, como muitos acham...
EG - Cores fortes e alegres marcam e caracterizam suas telas.
Chama a atenção suas namoradeiras, que na janela se mostram à espera de
alguém, além de cenas bucólicas e típicas da roça, como o casamento ou o
cotidiano das feiras nas cidades do interior, pelo nordeste afora. O
que aproxima, a mantém atraída e o que identifica a artista Mônica
Torres com esse universo?
MT - Minhas cores fortes acho que vem de minha alma,
sou muito impulsiva, impetuosa e sempre faço e falo as coisas e só
depois penso...ai quando vejo, já fiz e pronto. Também me acho uma
pessoa forte, pois estou aqui a falar com vc, (risos). Na verdade acho
que tudo o que desenho e pinto, vem de minha alma e lembranças que tive
ou coisas e fatos que perdi de viver...
EG - É possível nos depararmos com rostos sombrios, que revelam
as dificuldades e o sofrimento por que passam os viventes do nordeste.
Também, o violeiro que faz modinha, a mulher que toca o pandeiro,
destemida, a matuta vaidosa, outra, apaixonada que parece debulhar
palavreado carinhoso, no 'pé-do-ouvido' do amado. Como artista, que você
sabe recolher da vida, cenas onde as figuras apresentam estereótipos,
que muitas vezes passam despercebidas por muita gente. O interesse em
retratar tais figuras e em tais instantes, acrescenta ao seu registro
artístico, algo que transborda e dá vida às personagens. Como é
construído o diálogo entre você e as imagens que você cria?
MT - As minhas Namoradeiras de olhares lânguidos??? Menina, essas eu tiro da tristeza e alegrias das Mulheres
de vida fácil como se fala ainda no Interior do Nordeste. As acho
grandes Mulheres que devem ser desenhadas, pintadas, faladas em versos e
prosas, pois representam, todas, os sonho de mulheres que nunca tiveram
uma chance na vida, e como estão matando as nossas mulheres em Alagoas e
no Brasil!!!Tem também as mulheres sonhadoras, apaixonadas, vaidosas
que somos todas nós e não uma só... Crio cada trabalho meu em minha
mente só em olhar a tela em branco, eu a vejo, pronta e assinada, e se
não for assim eu nem começo... Realmente eu acho que todos os meus
trabalhos são um pouco de mim, é como um filho e sai de minhas
entranhas, sonhos, dores, alegrias, sucesso e fracassos... Sai da
saudade que ainda sinto de quem amei e já se foi e nunca mais verei por
não estar nesse plano! Cada trabalho é apenas um pouco de mim e não sei
como me definir!!!
EG - Religiosidade: Parece acontecer, como parte imprescindível
da sua respiração artística. Uma legião de santos conhecidos dos
nordestinos, estão inclusos dentre seus trabalhos. Pode-se dizer até que
lhe acompanham. Isso tem a ver com questões pessoais ligadas à fé ou
eles pontuam, simplesmente, a fé do homem nordestino?
MT - A fé do Homem Nordestina é incrivelmente bela, e incansável... Amo a História e criar
a Arte Sacra, da minha maneira, tirando o sofrimento de cada Santo e
trazendo a realidade atual... Por isso os faço, puxando pro folclore, e
dou movimento a eles... E tenho uma mãe muito religiosa, que isso
inspira muito... Apesar de eu não o ser ou seguir uma religião. Minha
religião é minha fé é Deus!
EG - Gostaria que você falasse sobre o que espera receber do público que irá prestigiar sua exposição.
MT - Espero que gostem, curtam e observem
todos os detalhes, façam suas criticas boas ou ruins, pois cada quadro
tem seu dono, cada pessoa se identifica com um, e o alagoano precisa dar
mais atenção aos seus artistas e sua cultura... Espero que a maioria
dos que forem ver minha EXPOSIÇÃO CORES E CRENÇAS DO NORDESTE, se
identifique com um trabalho e quem sabe o leve para sua casa! Quero
agradecer a minha curadora Viviane Duarte Acioli, por mais essa
exposição e em especial a você, minha amiga e grande Jornalista/ Artista Plástica, Goretti Brandão.
EG – Sou eu quem agradece a honra de tê-la, aqui, no Ensaio Geral.
Para quem quiser conhecer mais sobre a artista e seu trabalho:
Armazém de Artes e Galeria de Artes plástica Mônica Alves Torres
Rua Roberto Simonsen, 555 a., Gruta de Lourdes
Maceió, Brasil – CEP: 57052-675
Rua Roberto Simonsen, 555 a., Gruta de Lourdes
Maceió, Brasil – CEP: 57052-675
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