Sob o olhar do infinito

Dias esses pedregosos. Antes, sentada no primeiro degrau da escada que dá para outros cômodos da casa, apreciara as noites do céu. Imaginava que, o universo aquela vastidão, a pudesse tragar numa viagem pelo desconhecido. Vagar por entre os astros, em carne e osso, não. Não a si mesma, feita do tecido humano, mas vagar na força das perguntas, sobre o que significa o universo, o que significa ver aqueles pontos luminosos que lhe causam arrepios, e perguntar sobre as constelações, e pressentir ser capaz de entender tudo o que seus ancestrais souberam sobre as estrelas.

Dias esses de incertezas, e a curiosidade, sempre, estabelecida, sendo a causa de reverências, só de pensar que diante da Via Láctea, tudo seu, toda a sua alegria, toda a sua dor, suas pelejas e conquistas, seus questionamentos, poderiam ser resumidos em tolas abstrações e desintegrar como sofismas. Haveria ela, então, de ser um nada. Um nada a observar que as distâncias celestes e as luzes astrais, tinham tanta grandiosidade que se impunham a invalidar até mesmo o degrau da escada onde se deixava sentar, e aquele momento silenciosamente solitário, onde jogava de si à imensidão. Admitia, talvez, a sensação de que não passasse de um minúsculo ponto, visto de algum lugar do céu. 

Quem a veria afinal? 

Queria que do universo algo a fitasse. Aprimorou-se, brilhante como as estrelas, e constelou-se, agora, nesses dias, como se pudesse alcançar aquele intento. Fez mediação supondo a existência de um posto de avistamento fixado no cosmo, e acolheu rapidamente o que refratou da movimentação de uma luz, caindo do vasto céu noturno para dentro dos seus olhos, como um olhar prenhe de privilégios, dos que descortinam semblantes e segredos divinos. E  imaginou-se como sendo, no mesmo instante, um pequenino reflexo nas retinas dos olhos de Deus... 



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