(Des)Caminhos da Arte Alagoana: O ponto de vista de Paulo Caldas
Uma reportagem com o artista, desenhista, poeta e pintor
Discutindo as Artes Plásticas em Alagoas, é um grupo criado no
Facebook, pelo artista plástico Paulo Caldas. Em tempos onde as pessoas
estão cada vez mais, interagindo nas redes sociais, a sua intenção é
promover a troca de conhecimentos e experiências de cada um. Assuntos
tais como técnicas, materiais, questões que envolvem os processos da
criação de trabalhos artísticos: perspectiva, texturas, desenhos, tons,
são bem vindos. Além disso, o espaço está aberto aos debates e à
manifestação crítica, por parte dos que fazem as artes plásticas
alagoanas, que segundo a opinião do artista, precisam fazer uso de
locais como esses, para veicular tais discussões.
O que falta para a interação?
Como mais de dois meses, o grupo é ainda inexpressivo, não por causa do
reduzido número de participantes: 27 pessoas, na maioria artistas - e
também outras, de destaque e influência no cenário da cultura de Alagoas
e que se supõe, têm o que dizer -, mas pela letargia que trava a
dinâmica desejada pelo criador do grupo. Paulo diz que ninguém tem
interesse em levar uma discussão adiante, mesmo quando comenta sobre o
que tem visto em matéria de arte, algumas pessoas ainda dão como
resposta o que ele considera como “um frívolo ‘curtir’”. “Acho pouco
para quem lida com arte, uma vez que arte é comunicação pura. Parece não
terem o que falar... sei lá!. Acho que estão mais interessados em
postar seus egos. E não é só na esfera daqui não”, lamenta Caldas.
Solitário: a ovelha desgarrada
O artista protagoniza situações, onde, solitário, aponta exemplos:
“Participei da mostra/concurso sobre os contos e a vida de Aurélio
Buarque. Achei aquela exposição de um nível de qualidade muito alto! Um
belo acervo! Então pensei: porque não falar com os artistas para
reivindicarmos uma aquisição - por parte do governo e dos patrocinadores
- de todas as obras? e que esse acervo fizesse parte de um ponto a ser
visitado por turistas, escolas, ou qualquer passante interessado em
saber da história de um grande vulto da cultura brasileira, nascido nas
alagoas?”
Peregrinação
Paulo falou com muitos artistas. Imaginou que os outros, fossem
encampar a ideia, mas segundo ele, todos foram muito alheios ao projeto,
como se não fizessem parte daquilo. Numa exposição do Instituto da
Visão, encontrou uma artista conhecida, esposa de um artista alagoano
famoso, já falecido, que na ocasião, conversava com outras cinco
mulheres, todas de influência na área. “Foi engraçado como aconteceu: eu
falava com uma, que dizia: quem vai gostar dessa ideia é a fulana. A
fulana estava lá. Ah! Ela está ali... vamos falar com ela! Fomos. E a
fulana disse: que boa ideia. Quem vai gostar é a fulaninha, que também
estava lá. A fulaninha dizia: ah!!! Que ótima idéia!!! Quem vai
gostar... e assim todas gostaram e ninguém fez nada ou me abriu uma
porta”.
Sempre olhando para o problema da sobrevivência do artista, a partir do
seu trabalho, o artista quer que se tenha um espaço, onde os que
queiram possam exercer o ofício e vender a sua produção. Paulo Caldas,
convidado para o Ocupe Jaraguá, um movimento que congrega artistas,
produtores culturais e todos os que se interessam pela cultura alagoana,
pondera que apesar do bairro ser histórico, romântico, é a Pajuçara, a
grande passarela. Não só de turistas, como do povo nativo também. “Ali
tem espaço pra todo mundo, menos para o artista. Espaço tem. Falta
vontade”, assevera.
O artista arregaçou as mangas. Recorreu às Secretarias de Cultura
Estadual e Municipal. Tentou ser ouvido na Secretaria de Planejamento.
Lá sugeriram a necessidade da criação de uma entidade e de uma comissão
de artistas para fazerem a reivindicação. “Cheguei a falar com alguns
artistas, mas a resposta é sempre a mesma: Legal... vamo vê... é
mermo... e pronto!. Por isso não levei adiante a história da formação e
manutenção do grupo. Acho o comprometimento muito pouco.”
“Fui pro pau”
Exemplos vão e vêm e são pontuados por Paulo. Um deles envolve a
primeira edição da exposição do ano passado, do Salão de Arte da
Marinha. Os artistas haviam feito um acordo com o curador, que não
haveria premiação, mas, em troca, haveria a publicação de um catálogo,
que seria bom para todos os participantes. O catálogo não saiu. Ganhador
do 1º lugar, Caldas procurou os artistas envolvidos para que fizessem
uma cobrança, mas encontrou, “a mesma resposta fria e evasiva”, diz ele.
Ao cobrar o acordo feito, publicamente, em uma revista eletrônica,
novamente, sozinho, teve a resposta de que a responsabilidade era da
Marinha, patrocinadora do evento. O artista faz questão de afirmar que:
“Quando faço uma cobrança não estou acusando ninguém. Apenas quero luz
sobre a ribalta!” As colocações de Caldas encheriam e transbordariam
espaços.
Quanto à falta de comentários às interrogações e assuntos levados à
página, que interessariam naturalmente os artistas, tais atitudes dariam
sinais daquilo que o próprio
Paulo Caldas aponta quando fala sobre a inércia do grupo - Acho que
estão mais interessados em postar seus egos - ou revelaria que os
participantes do Discutindo as Artes Plásticas em Alagoas, usam a
proximidade virtual, na condição que a contigüidade não-virtual exige?
Ou seja: adotando o que é parte e característica do real, nas redes
sociais, que não criam vínculos e onde é possível, com um simples
apertar de uma tecla, “deletar” qualquer relação pseudo-estabelecida,
entre seus participantes, pois que não é permeada por compromisso
algum?.
Ao que parece, a ideia de Paulo; aproveitar o espaço virtual no
Facebook, como tentativa à proximidade, não efetivou, pelo menos até
agora, a comunicação - entendida como local de discussão, aprofundamento
e troca -, entre os artistas, tendendo a reproduzir a mesma apatia e
descompromisso dos mesmos, quando presencialmente, em relação aos
assuntos pertinentes, não só ao chamamento às reivindicações, como
também ao preenchimento de lacunas que movimentem a cultura alagoana e
que deem mais palpáveis condições à manutenção da criação artística.
Conheça mais sobre o artista:
Blog: Marinanasceu.blogspot.com
Portfolio http://www.flickr.com/photos/paulo-caldas/
Comunidade de artistas http://galeriaaberta.ning.com/profile/paulocaldas
Comentários
Postar um comentário