Alegria! Alegria! O circo chegou!!
Foto: Goretti Brandão |
“Hoje tem marmelada?
- Tem sim senhor!
- Hoje tem palhaçada?
- Tem sim senhor!”
- Hoje tem palhaçada?
- Tem sim senhor!”
Na pequena cidade do interior, os rumores de que um circo havia
chegado, levava curiosos de todas as idades ao local onde eram armados.
Todos queriam ver aqueles artistas nômades, suas cabanas de lona, os
animais e os homens trabalhando para erguer aquele templo dionisíaco.
Coisa de um, dois dias, um palhaço sobre longas pernas de pau,
acompanhado por um cortejo cada vez maior de crianças, anunciava
oficialmente a sua chegada e a primeira apresentação do espetáculo,
andando pelas ruas em efusivo rebuliço.
Era em sua maioria, circos pobres e pequenos, com mastro único,
empanada cheia de furos, que atraíam para dentro da copa, a visão de um
pisca-pisca estrelar a céu aberto. Dentro, para a assistência, cadeiras e
a geral, feita de muitas tábuas e pouca segurança, cercavam um
picadeiro de tablado, com cortina vermelha desgastada. À infância
daqueles idos anos, mergulhados na memória da gente, oriunda das
cidadezinhas, guardam-se circos rudimentares e decadentes, é verdade, mesmo
assim, mensageiros de muita alegria.
Sejam de que tamanho forem, simples e básicos ou glamorosos e
apoteóticos, os circos deixam carimbados em nós, noções das ciências da
arte de viver. O equilíbrio é-nos constantemente apresentado, na
matemática que sustenta corpos, que os embala sobre trapézios, que os
fazem caber na junção de outros corpos contorcidos sobre pequenos metros
quadrados de espaço, na sincronia de tempos entre outros, que trocam
objetos em correspondência biunívoca.
É a lógica aritmética em forma de espetáculo que nos fascina. E até
mesmo mais que a lógica, a fascinação vem do desafio que desconstrói o
equilíbrio para reconstruí-lo em condições adversas. A desestabilização
acontece para que se possa mostrar a habilidade em lidar com situações
instáveis. A insegurança é vencida pelo controle do tempo, do lance e do
retorno dos corpos ou dos objetos, a partir da altura e distância em
que são lançados. Domínio, exatidão e vitória. É o que somos chamados a
aplaudir.
As dançarinas obedecem à mesma ordem, quando dançam medindo passos, e
os transformam magicamente em leveza. No entanto há outra faceta
oferecida ao público. E ela é chamada ao picadeiro para invalidar
unilateralidades e compensar os extremos da balança. Salvo a presença da
lógica, é preciso que se dê vez ao seu oposto: a fantasia e a
imaginação, porque não só de exatidões vive o homem. É na magia e no
palhaço que entra em cena a condição do fantástico. O circo ensina que
quando lógica e imaginação tiverem o mesmo peso, essa forma de
equilíbrio será a virtude capaz de tornar pleno o espetáculo da vida.
_ “E o palhaço, o que é?
_ É ladrão de mulher!”
_ É ladrão de mulher!”
Comentários
Postar um comentário