O cheiro da vida
A paisagem passa ligeiro. Aridez de quase deserto - é como estar vendo por dentro de Isaura -, o seu deserto tão bem escondido, entre a alma e as suas vísceras. (Pudera ver por dentro das outras pessoas, como tão bem percebo Isaura: as suas teias de aranha, seus velames, suas folhas queimadas, a árvore seca que aponta galhos aflitos e afiados, contra um céu que dita um único tom de azul, para o que a vista oferece). A desolada visão, ao contrário do que deveria motivar tristezas, emite uma ponta de alegria que reverbera lá dentro e como uma onda de emoção, vem para fora em forma de um solitário sorrisinho disfarçado. O carro corre pela estrada. Um homem que viaja desconsolado declara ao motorista que “mulher só vai é com tabica na bunda”. Isaura e outra mulher que se sentara no mesmo banco, se entreolham e disfarçam o riso, ambas, cobrindo a boca com uma das mãos. Por que teriam sorrido? Isaura sabe o porquê de se rir. É que a invadiu um estranho gosto de vitória, por também ao