Caminhando pelos outonos e invernos da existência
Um olhar sobre o envelhecer
Um dia a gente passa em frente ao vidro espelhado de uma loja, em um
centro comercial, e sente o impacto: não somos mais os mesmos. Mudamos. A
sensação que se tem é a de que estamos em um corpo errado. É como se
uma máscara, revestindo a nossa pessoa inteira, estivesse escondendo e
roubando a imagem que até então era a nossa identidade; o eu-sou-este
(a).
Somos pegos de surpresa, porque ainda que tenhamos a mente cheia de
idéias e projetos, acontece uma grande confusão: a pessoa de dentro
começa a não combinar com a imagem projetada no exterior e o próprio
corpo dá indícios de que a vigência física começa a declinar.
Sequer somos convidados a entrar no processo. Neste sentido não há
escolhas. Há sim, um caminho a percorrer, como outros percorridos tempos
atrás, quando passamos de embrião, a feto, de criança a adolescente, de
adolescente a adulto. Durante tais etapas, também não pudemos escolher
parar no meio do caminho, onde nos sentimos confortáveis, mas, é como se
subíssemos uma ladeira. Tempo de construção no mundo exterior,
perseguimos sonhos, traçamos metas, corremos atrás de estabilidades,
buscamos um lugar dentro da vida social e estamos ocupados com isso.
Implacável, o tempo passa. Muitas pessoas na meia-idade lançam luz
frouxa sobre a inquietação que as persegue, pressentindo a ferida que a
clarividência inevitavelmente vai causar. Assumir que adentraram as
portas outonais e que terão que enfrentar o inverno da vida, para muitos
é doloroso e assustador. Porque quando ainda bem não se chegou ao topo
da montanha, local simbólico, de onde se podem observar o contexto das
aquisições humanas - família, trabalho, sociedade – sobrevém a pergunta
sobre o que se colheu, sobre o que foi colhido: flores, trigo, e de
quais fontes, foram as águas por nós bebidas, e de que ar enchemos os
nossos pulmões?
Significantes, que se nos foram oferecidos pelos campos da vida. Não
podemos voltar atrás para ir buscá-los. Mesmo assim é preciso ter
coragem de enfrentar nossos medos, para empreender lutas, que às portas
do envelhecimento, nos espreitam como monstros e megeras do nosso mundo
interior, e que irão, impiedosamente, nos condenar e cobrar por cada
coisa, cada detalhe, do que deixamos por fazer, do que negligenciamos e
do que nos esquecemos de trazer como suportes espirituais, psicológicos,
necessários à nova experiência. Vividas as primeiras estações, somos
requisitados a vivenciar outras instâncias. O que temos para nos ajudar a
vivê-las?
Longe da beleza juvenil e, próximos às rugas, manchas, fragilidade
física, que acentuam a condição de que estamos envelhecendo, surge à
experiência que nos permite não apenas contemplar, mas mergulhar na
ossatura, daquilo que é vital em nós, como decifrar a arte de construir a
vida. Quando temos a certeza de que somos finitos, é que
paradoxalmente, a vida tem mais valor e é mais reverenciada. Por trás
das perdas físicas do envelhecimento, está o prêmio às escolhas que nos
foram permitidas fazer. Aos que observaram as brotações do solo da alma e
fizeram colheitas pelo caminho da existência, esses continuarão
alimentando o coração e enchendo a vida de sentido e alegria.
Já ouvimos falar em Juventude Transviada? Mas, Será que existe a Velhice Transviada! A Velhice de Van-guada? A velhice cabe muito bem na mente, e a juventude aflora na velhice?O que é ser velho? Já nascemos velho, como quem já nasce prá morrer? Nascendo já estamos morrendo! Três coisitas que nos assombram a existência: Enfermidades, velhice e morte! Bem, cabe a cada um escolher!
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