Amanhecer

Para ontem um hoje que madruga.

Meu gato é medroso, 

conheço pelo olho arregalado, as costas curvadas,

o pelo arrepiado.

Como conheço a madrugada ainda escura.

essa coisa da noite não querer partir,

e a mulher que partiria ao amanhecer estar ansiosa pela última das vezes,

perguntando:

Que horas? Que horas são?

Sabia que iria embora assim que a primeiríssima luz viesse?

Teria medo? Estaria ansiosa?

Meu gato é tão desconfiado,

mia e mia, mesmo tendo comida,

tendo meu olhar e minha voz.

Mesmo sendo aceito.

E eu,  

essa mulher que

às cinco da madrugada, entre miados e sustos,

acordo aos pulos, o coração aflito,

sei que o sol é para mais um dia,

Portal para o que tem que ser,

Então... que o dia amanheça.


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